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Ritmos
de Treino
A maioria dos corredores, quer
sejam ou não principiantes, debate-se com a
questão dos ritmos a utilizar em plena
competição, atendendo a que, nas que têm lugar
em estrada, as condicionantes que envolvem o
esforço são de natureza múltipla e subjectiva.
Se isto é uma realidade, também devemos ter
presente que, nos esforços prolongados, as
melhores marcas têm lugar quando o ritmo imposto
é muito semelhante durante dois terços da
distância a percorrer. As estatísticas dos
últimos 20, 30 anos, comprovam tal facto, tanto
em termos masculinos como femininos. Para os
chamados corredores de pelotão, normalmente
praticantes cujo objectivo não é centrado na
marca, a aplicação de um ritmo constante ao
longo de toda a prova irá possibilitar um
esforço mais equilibrado, seguro, e que
proporcionará um prazer bem diferente.
Claro que para os principiantes,
isto é, aqueles que começaram a praticar a
corrida há poucos meses, os problemas com a
cadência a utilizar nos treinos quase que não
existem, pois dir-se-á que apenas
"têm" três espécies de ritmo: fraco,
médio e forte. Se lhes indicarmos que se torna
necessário fazer 20 minutos de corrida, sabem
que o ritmo deverá situar-se entre o fraco e o
médio e, para alguns, até mesmo só o fraco.
Isso acontece porque eles ainda não têm noção
da imensidão de ritmos que podem ser aplicados
pelos atletas de Alta Competição em pleno
esforço contínuo. Nos principiantes, a corrida
é quase como que um prolongamento da marcha e as
duas formas de movimento surgem interligadas.
Depois de anos de aprendizagem,
digamos, ao cabo de dois ou três anos de
prática regular de corrida, começa-se a
compreender a imensidão de ritmos que rodeia
qualquer prova de longa distância. Tal
experiência é ganha não só através dos
treinos de corrida contínua, de tipo médio, forte ou fraco,
como também nos denominados treinos com períodos de
intervalos.
Se a elite treina para bater
recordes, os "populares" terão por
objectivo a conquista da sua melhor forma
possível e se tal facto pode parecer de certo
modo antagónico, a verdade é que as questões
da aplicação do melhor estilo de corrida acaba
por "tocar" cada grupo de atletas. Ser
corredor, independentemente das faculdades de
cada um, passa por se saber aplicar um estilo de
corrida fácil, sem movimentos desnecessários,
como se fosse fundamental guardar toda a energia
para se progredir. Nesta sequência, existe um
dado que permite controlar as perdas
energéticas. Referimo-nos a questão do
comprimento da passada. Se ele for muito grande,
o gasto energético é maior... Se for muito
pequeno, os gastos serão menores, mas o factor
rendimento também o é, o que significa que o
comprimento desejável para que perante uma
passada económica está entre as duas
amplitudes, devendo cada corredor fazer várias
experiências e sempre dentro do principio de uma
corrida fácil, leve, e em que sinta
verdadeiramente o deslocamento.
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Outra questão que acaba por
influenciar o ritmo do corredor diz respeito á
sua linha de corrida. O exemplo que damos nesta
página é bastante elucidativo e há que
salientar que, para se aprender a correr em linha
recta, o melhor processo é fazê-lo em cima das
linhas de marcação pintadas na estrada. O ideal
é escolher uma que tenha as bermas assinaladas
com risco contínuo, devendo o treino de corrida
efectuar-se com a preocupação de se colocar
sempre os pés sobre a linha. Através deste
processo, e ao cabo de algumas semanas, o nosso
estilo de corrida, a forma como colocamos os pés
no chão, é muito mais rectilínea e o mesmo é
dizer que o trajecto percorrido é
teoricamente menor... Numa prova longa, tal ganho
pode representar dezenas e dezenas de metros.
QUE CADÊNCIA ENTÃO ADOPTAR?
Evidentemente que não podemos
apontar aqui esquemas de treino que abranja
atletas de todos os níveis, o que seria
impossível, pois haveria que ter em atenção
diversos factores, como a idade, o nível de
treino, as condições atmosféricas, etc..
Esquematizamos o artigo partindo dos seguintes
princípios:
- Qual a distância
favorita;
- Número médio de
treinos por semana;
- Locais de treino
mais frequentados pelos corredores.
Vejamos, portanto, em síntese,
as premissas em que nos baseamos para elaborar as
tabelas de treino de ritmo:
1 - Qual a distância
favorita:
Tendo em conta os diversos inquéritos
efectuados de Norte a Sul do país, podemos
chegar à conclusão que 43% deles têm as suas
grandes preferências nas provas com distâncias
entre os 15 e os 21 km. Perante este dado,
optamos por situar a prova da meia-maratona como
a mais indicada para o efeito, já que a mesma
tem sido, de resto, a mais divulgada desde a
primeira fase de lançamento da Corrida para
Todos. Portanto, nas tabelas de treino, vamos
encontrar variantes em torno dos 21 km.
2 - Carga semanal de treinos:
Ainda de acordo com os últimos inquéritos
envolvendo corredores, 41% deles indicaram
efectuar 6 e 7 sessões de treino por semana,
enquanto 26% apontavam pare 4 e 5 sessões. Para
este nosso trabalho, preferimos as 5 sessões por
julgarmos ser este número mais de harmonia com a
realidade.
3 - Locais de preparação:
Quanto a este ponto, não existem quaisquer
dúvidas: a estrada, o asfalto, é a grande pista
dos corredores portugueses e, mesmo que isso
pareça estranho, até mesmo dos atletas de Alta
Competição!...
Para os nossos treinos de ritmo, a distância
escolhida foi a de 1.000 metros. Os interessados
deverão ter o cuidado de, aproveitando uma
estrada de pouco movimento, e tanto quanto
possível plana, assinalarem tal distância ou,
então, 500 metros em percurso de ida e volta,
situação esta não muito aconselhada para os
treinos de ritmo. Claro que estamos a falar de
uma medição exacta e, de preferência, mediante
a utilização de fita métrica.
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PARTIR PARA O
TREINO... Se considerarmos os tais cinco
treinos semanais, há que dedicar um deles ao
factor da melhoria do ritmo competitivo e que
deve decorrer sob os seguintes princípios:
- - Aquecimento
- - Trabalho
especifico
- - Retorno à calma
Se as fases A e C mais não são
do que períodos de 10 a 20 minutos de corrida
lenta, descontraída, intercalados por tempos
dedicados a exercícios de flexibilidade e
alongamento, já a fase B merece uma explicação
mais detalhada:
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Métodos de Treino
Resistência
Em primeiro lugar, comecemos por
definir o que é a resistência:
"Resistência é a capacidade do organismo
em resistir à fadiga numa actividade motora
prolongada se considerarmos por fadiga, a
diminuição transitória e reversível da
capacidade de trabalho do atleta"
São vários os meios e métodos
de treino utilizados para treinar a resistência.
Estes métodos podem variar na duração e na
intensidade do esforço, assim como na forma de
organização do próprio treino, numa tentativa
de adaptar o esforço realizado aos objectivos
pretendidos.
Podemos dividir os métodos de
treino da resistência em dois grandes grupos:
·
Métodos Contínuos (uniformes e
variados), que se caracterizam por exercícios de
longa duração e sem interrupção.
·
Métodos por intervalos, que se
caracterizam por exercícios onde o organismo é
submetido a períodos curtos, regulares e
repetidos de trabalho, com períodos de repouso
adequados. O Método por Intervalos pode ser
dividido em Método Intervalado (pausas
incompletas) e Método de Repetições (pausas
completas).
Os Métodos de Treino mais
utilizados são os seguintes:
Método contínuo
uniforme ou corrida contínua
Definição:
Normalmente são esforços de média e longa
duração com uma intensidade (velocidade) baixa
ou media, mas constante.
Objectivo: Este
método de treino tem como principal objectivo o
desenvolvimento da capacidade aeróbia, embora
com algumas adaptações (redução da duração
e aumento da intensidade) também possa ser
utilizado para o desenvolvimento da potência
aeróbia.
Variáveis: As
variáveis que se podem introduzir neste método
de treino dizem essencialmente respeito à sua
duração (longa, média ou curta) e a sua
intensidade (baixa, média ou alta). Uma outra
variável tem a ver com o local de treino
(estrada, relva, corta-mato, praia, montanha),
que deve ser escolhido em função dos objectivos
do treino, período da época e características
do atleta.
Método Contínuo
Variado ou "Fartlek"
Definição:
Normalmente são esforços de média e longa
duração com variações de intensidade
determinadas por três diferentes factores:
- Factores Externos
(perfil do terreno).
- Factores Internos
(vontade do atleta).
- Factores planeados
(decisões da programação).
Objectivos: Devido
a grande variedade de situações permitidas por
este tipo de treino, podemos dizer que tem uma
grande abrangência no que respeita as fontes
energéticas mais solicitadas. Contudo, podemos
dizer que este treino é principalmente utilizado
para o desenvolvimento da potência aeróbia,
embora possa também ser utilizado para o
desenvolvimento da capacidade aeróbia (maior
duração e menor intensidade do esforço) ou no
pólo oposto, para o desenvolvimento da
capacidade láctica (menor duração e maior
intensidade do esforço). É possível dizer que
os principais objectivos deste método de treino
da resistência são permitir uma adaptação à
variação da solicitação metabólica, uma
compensação da lactatemia durante as fases de
carga de intensidade baixa e média e uma
percepção e aprendizagem de ritmos diversos com
variação frequente.
Variáveis: Também
neste método de treino as principais variáveis
são a duração e a intensidade do esforço, que
normalmente pode variar entre os 15 a 60 minutos.
Contudo, neste caso há outras variáveis muito
importantes:
- Local do Treino: Se as
variações de intensidade forem determinadas por
factores externos como o perfil do terreno,
então o local do treino passa a ser uma
variável fundamental neste método de treino.
Por exemplo é possível num treino de praia
variar a corrida em areia molhada (ritmos mais
rápidos) e areia seca (ritmos obrigatoriamente
mais lentos). Outro exemplo é o treino em
corta-mato em que as subidas e descidas provocam
de uma forma natural constantes alterações dos
ritmos.
- Vontade do Atleta: Se as
variações de intensidade forem determinadas por
factores internos como a vontade do atleta,
então as características do atleta, o seu
momento de forma e a sua disposição para o
treino passam a ser variáveis fundamentais.
Neste caso de "Fartlek não orientado"
o atleta vai fazendo alterações ao seu ritmo de
corrida de acordo com a sua própria vontade.
- Factores Planeados: Se
as variações de intensidade forem determinadas
por decisões da programação do treinador,
então a construção do treino (número de
alterações de ritmo, duração de cada
alteração, intensidade de cada alteração,
tempo de recuperação nos ritmos menos intensos,
etc.), passa a ser uma variável fundamental, que
neste caso está relacionada com o objectivo do
treino e com a fonte energética que pretende
solicitar.
Este método tem um papel muito
importante no planeamento anual do treino, pois
permite fazer a transição entre um treino
inicial à base de corrida contínua e um treino
em que já se começa a utilizar o método intervalado. Deve pois incluir-se após seis
a oito semanas depois do inicio da época e ir
mais tarde substituindo este método, de forma
progressiva, pelo método intervalado. Também
após lesões que provoquem paragens prolongadas,
é bom começar o treino anaeróbio, primeiro
através de "fartleks".
Método
intervalado (ou séries)
Ver Como aprender a fazer
séries
Método das
Repetições
A grande diferença entre o
método intervalado e o método das repetições
está na duração do tempo de recuperação,
pois enquanto a recuperação do treino
intervalado não permite a recuperação
completa, o mesmo já não acontece com o método
das repetições.
Esta característica faz com que
este método seja utilizado fundamentalmente para
treinos de grande intensidade e principalmente
treinos de potência e de ritmo competitivo. Com
o aumento do intervalo e também da intensidade,
diminui o número de repetições.
Bibligrafia: Revista
Atletismo
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Simbologia
CAMINHADA = É uma
simples caminhada em estilo passeio. Aqui não há
corrida apenas um caminhar num ritmo tranquilo.
SESSÃO DE RECUPERAÇÃO =
Trata-se de um treino de corrida em que se vai utilizar
um ritmo lento fácil, em que se possa conversar em pleno
esforço. As paragens deverão ser a caminhar lentamente
num mesmo tempo ao que se esteve a correr.
SESSÃO CONTÍNUA = Mesmas
características do que o treino anterior só que não
há paragens.
REPOUSO ou DESCANSO =
Não há treino neste dia.
RL = "Ritmo
Lento" - significa um andamento controlado, onde a
respiração não chegue a ser ofegante e o ritmo
cardíaco não deverá ultrapassar os limites de 140-150
batimentos p/minuto
RC
= "Ritmo de Competição ou Forte" - quer dizer
um andamento parecido ou semelhante ao que se deseja
imprimir durante uma competição.
RP = "Ritmo
Progressivo" - significa começar lento e acelerar
progressivamente até atingir o andamento ideal para a
competição, a partir de metade do treino, para vir
mesmo a superar na fase derradeira.
"n"x1500 mts =
Séries de ritmo mais rápidas que o da prova, com
intervalos de cerca de 3 a 6 minutos entre repetições.
(Ver também Sessões de treino intervalado)
"n"x400
mts = Séries de ritmo mais rápidas que o da
prova, com intervalos de cerca de 60 a 90 segundos entre
repetições.
Fartlek = Treino
de média ou longa duração, contendo
variações de ritmo, de terreno e de piso. O
tipo de ritmo fica ao critério do atleta, como
por exemplo, 200 mts rápido, 200 mts a trote, ou
com distâncias de 100, 300 ou até mesmo 500
mts. Pode ser fixado por distância ou tempo
total de treino.
OBS.: O treino
de ritmo ou fraccionado, pode ser substituído por
esforço semelhante, não com base na distância,
mas no tempo. (5 minutos em vez de 1500 mts, e 60
segundos em vez de 400 metros)
Nos dias em que
houver Séries de ritmo, recomenda-se um
aquecimento de cerca de 20 a 30 minutos, mais uma
fase de retorno á calma de cerca de 4 kms.
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Notas:
Importa chamar
a atenção para os seguintes aspectos:
1- Os interessados
apenas devem começar a aplicar qualquer destes planos de
treino após terem efectuado um exame médico conveniente
e de preferência, com um profissional familiarizado com
a problemática do esforço físico;
2 - Os planos de treino
devem ser interpretados como indicações para uma
orientação geral da prática da corrida e nunca como um
vínculo individual. Importa deixar claro que o ritmo
geral das sessões de treino deve ser lento, suave e que
permita ao interessado poder manter uma conversação
normal em pleno esforço.
3 - Há que ter presente
que o exercício físico regular implica um maior
desgaste orgânico e nesta sequência a alimentação
deve ser mais equilibrada e sobretudo assistir-se a uma
maior ingestão de água. Há que lembrar que os
desportistas devem beber cerca de 3 litros de água.
4 - A principal peça do
equipamento do corredor é o sapato e bom será que quem
pratica Corrida tenha a precaução de utilizar uns
sapatos técnicos específicos, ou seja, desenhados para
esse desporto e com as protecções anatómicas capazes
de fazerem de cada passada um momento de prazer. (Veja
também "Sapatos de Treino")
Agora, há que partir para as primeiras
passadas. Bem vistas as coisas, e como costumam dizer os
especialistas, a mais difícil é mesmo a primeira
passada, ou seja aquela em que se decide começar mesmo a
correr.
BOAS E AGRADÁVEIS CORRIDAS!
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