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As minhas provas - 2009
 


II MARATÓN DE MONTAÑA PUEBLO LOS ARTESANOS - 42 km
Torrejoncillo - Cáceres - Espanha

4 de Outubro de 2009 – 9h30

http://maratonartesanos.blogspot.com/

Altimetria do percurso

AVITUALLAMIENTOS LÍQUIDO
AVITUALLAMIENTO SÓLIDO
METAS VOLANTES 2
DESNIVEL ACUMULADO
POSITIVO
NEGATIVO
Asfalto
Camino cementado
Camino tierra
Cortafuego
Sendero técnico
km 7 - 13 – 15 -21- 23,5 – 27 – 33 - 38
km 13 – 21 -27 – 38
km 15 km 22
2052 m
1065 m
987 m
1075 m
2100 m
28225 m
7200 m
3500 m

Sábado, dia 3 de Outubro

Pelas 9h00, lá saímos eu, o luís Miguel (Tigre) e as esposas em direcção a Cáceres na Extremadura em Espanha, para a 2ª edição desta Maratona de Montanha. Tinha-nos sido recomendada pelo Jorge Serrazina como uma prova bastante acessível, duma organização pequena mas muito dedicada aos atletas.

Chegámos perto da 1 da tarde e procurámos pelo Pavilhão Desportivo da vila de Torrejoncillo. Aí encontrámo-nos com a organização onde conhecemos o seu Director da Prova, Fernando Manzano, onde nos indicou onde poderíamos pernoitar e o local para levantamento dos dorsais na Casa da Cultura pelas 17h30.

 Almoçámos e passámos a visitar a vila a pé, depois de termos bebido o café na Plaza Mayor onde está situada a Iglesia Parroquial de San Andrés. Torrejoncillo é uma vila pequena, pacata e muito similar às existentes no nosso Alentejo. Com pouco mais de 3000 habitantes, basta cerca de menos de uma hora a pé para a visitarmos. Durante a nossa visita não vimos praticamente ninguém, pois deveria ser a hora da “siesta”.

Procurámos a escola em cujo ginásio iríamos pernoitar, e tratámos de arrumar as camas. Aí já se encontrava o Vitorino Coragem, um atleta espanhol, e o conhecido velho Baptista – o dinossauro pedestre. Descemos depois à Casa da Cultura onde levantaríamos os dorsais e ouviríamos um “briefing” sobre a prova.

À entrada fomos apresentados ao atleta Pedro José Hernández (atleta que tinha ganho a 1ª edição e totalmente equipado pela Salomon) pertencente à organização da prova, ao atleta do Grand Slam que vinha apresentar um livro e participar na prova, e a um casal que tinha um stand da Nutrilite – suplementos energéticos. O saco de prémios continha uma bolsa para mp3 e reflectores para o braço, revistas, caneta, uma embalagem de fatias de paio, uma pequena ânfora em barro vidrado como troféu de presença e uma T-shirt técnica branca com a particularidade de ter a bandeira da Extremadura e a bandeira Portuguesa.

O briefing foi apresentado no auditório e explicado o percurso, os níveis de dificuldade e os abastecimentos. De seguida foi apresentado o livro sobre as peripécias dum maratonista espanhol - Miguel Caselles – que participou no Grand Slam Marathon (7 maratonas em 7 continentes diferentes), no qual visionámos um vídeo. De salientar algumas das provas efectuadas, como a Maratona da Antárctida a 25º C negativos, a do Sahara com cerca de 50º C, a dos Andes no México com a vitória dos índios Huarache em sandálias e a Maratona em Sidney na Austrália. Houve também alguns factos sobre a maratona, explicado por um aluno da Universidade (factos científicos) e por um sociólogo e músico (factos sociais).

Rapidamente chegaram os atletas portugueses e dirigimo-nos ao restaurante perto do pavilhão onde iria haver o jantar. Este era composto por macarrão, guisado de carne com batata frita, vinho e águas, semi-frio e café seguido dum licor regional. O assunto discutido durante o jantar não era outro que não fosse a corrida.

Regressámos ao Ginásio, preparámos as coisas para o dia seguinte e deitámo-nos.

Domingo, 4 de Outubro

A partida foi dada pouco depois das 9h30 (hora local) defronte do Pabellón Deportivo de Torrejoncillo. Contrariamente ao habitual nas provas, parecia que ninguém tinha pressa. O primeiro km foi feito a cerca de 5’/km em que eu e o José Carlos Sousa liderávamos o pelotão. Um ritmo tão lento que até deu para ele correr de costas para tirar uma foto. Após termos passado a estrada nacional e entrarmos no trilho é que se começou a impor um ritmo mais forte.

Por nós começaram a passar atletas do Clube de Atletismo local, já habituados a estes trilhos. O percurso, esse, era de terra batida e pedra solta, entre vedações de arame de terrenos onde pastava o gado. Numa dessas cercas pastavam cavalos e um deles, talvez assustado com a passagem dos atletas, cavalgou lado a lado com o pelotão até terminar a cerca, o que causou riso geral entre os atletas. Um pouco desagradável era o odor a esterco do gado.

Como esta parte do percurso era plana até Santa Ana Bueno (perto dos 7,5 km), o ritmo era bastante rápido tendo passado aos 5 km com cerca de 22’. A maior preocupação era quando atravessávamos as cancelas para o gado em que existia uma vala coberta com uma grade em barras de ferro que distavam uma das outras em quase um palmo. Isto permitia a passagem de peões e viaturas mas não ao gado. Assim tínhamos de ter cuidado ao pisarmos estas grades.

Perto dos 8 km atravessámos um riacho e virámos à direita para Portezuelo. O trilho agora subiria até perto dos 13 km, no inicio da vila. Nesta altura o Vitorino Coragem apanha-me e seguimos juntos. Passamos aos 10 com 47’ e começamos a descer pelas ruelas da vila sob os incentivos dos populares. Rapidamente nos indicam um trilho bastante técnico com uma subida bastante pronunciada que nos leva até ao Castelo medieval em ruínas. Esta subida desgastou-me e perdi algumas posições. Nos últimos metros já se caminha agarrado às rochas em que transpomos um dos arcos de entrada do castelo. Descemos depois até ao abastecimento e posto de controlo onde me informam que vou em 15º, e saímos por outro arco que nos leva a um trilho com uma descida abrupta e grande inclinação. Gostei da tracção dos meus novos Asics Gel Trabuco 12WR recentemente adquiridos.

A partir daqui iremos ter cerca de 7 km sempre a subir até ao ponto mais alto da prova, o pico La Silleta. O Vitorino lá ía dando jus ao seu apelido colando-se a mim durante estas subidas até ao abastecimento sólido perto dos 18 km. Aqui, iríamos ter duas grandes subidas sobre pedra solta e intervaladas por um declive, que nos impossibilitava de correr. Nesta altura já o Vitorino tinha ficado para trás. Ao chegar ao topo cruzo-me com os atletas que vêm já em sentido contrário depois de já terem percorrido os cerca de 400 mt até ao pico onde se encontra o 2º posto de controlo. Lá em cima nas antenas, chamam-nos pelo nosso próprio nome e pedem que confirmemos. Vou em 24º. Existe abastecimento sólido e líquido, composto por água, aquárius, banana e pequenas barras de chocolate. Provo uma coisa de cada, olho para o meu Polar e tenho pouco menos de 2h aos 21 km.

Agora o percurso é a descer e vou ter de recuperar algumas das posições que perdi na subida. Cruzo-me com a Verónica e incentivo-a pois é a primeira mulher da prova.

A descida é bastante rápida zigue-zagueando pela encosta abaixo e vou ultrapassando atleta atrás de atleta até ao Monasterio del Palencar, continuando depois a descer por uma ruela cimentada até à Plaza Mayor da vila de Pedroso del Acim onde se encontra novo abastecimento e o posto de controlo dos 25 km. Abasteço-me e verifico que estou em 17º lugar.

Daqui saio para um trilho adentro dum pinhal. Apesar de ser a subir até Pedroso Del Arco, o correr pelo pinhal e à sombra deu-me bastante alento face ao calor que se começava a sentir. À saída do pinhal temos uma subida curta mas difícil em que um fotógrafo de barbas me pede “un sonriso por la foto!”. Tento sorrir (devo ter ficado lindo, devo!!!) mas o esforço espelha-se tanto no meu rosto, que quase caio.

Após ter transposto o topo, inicio uma descida pelo pinhal e agrada-me ir ultrapassando alguns atletas. Este foi um dos pontos mais bonitos e revigorantes da prova pois é a única com muita sombra. Pouco a pouco vou passando mais atletas e surpreso passo pelo José Carlos Sousa que se queixa do calor, e do Asdrúbal Freitas que esperava estivesse entre os primeiros.

Desço até ao ponto em que nos cruzamos com o trilho inicial, perto dos 33 km, e dirijo-me às viaturas pensando ser o abastecimento mas dizem-me que não e indicam-me o caminho de regresso. Tenho uma das garrafas do cinto vazia e a outra quase no fim, pois tenho estado a molhar os lábios no intervalo dos abastecimentos.

A falta deste ponto de abastecimento sobressalta-me pois até ao final da prova são perto de 8 km planos e descampados, embora ainda exista ainda um ponto aos 38 km. Tomo um gel energético que trazia no cinto, e imprimo um ritmo mais rápido. Rapidamente apanho o Guilherme da Hora que incentivo e continuo ao mesmo ritmo. Ao longe antes das casas vejo um tanque com uma bomba manual de tirar água e corro “que nem um camelo ao avistar o oásis”, quando verifico que há uma tenda do lado esquerdo com o abastecimento. Finalmente!!

Despejo uma garrafa pela cabeça abaixo, bebo dois copos de isotónico, como uma banana, agarro numa garrafa cheia e lá vou eu atrás de mais dois atletas que tinham saído do abastecimento mal eu cheguei.

Ultrapassei-os num ápice o que me motiva mais a continuar no mesmo ritmo. Após a passagem da ponte e duma curva e contra-curva entro na recta que vai dar à estrada nacional e vejo um atleta de equipamento amarelo a cerca duns 400 mts, e ponho como objectivo alcançá-lo. Passo a estrada onde se encontra a Guardia Civil e na marca dos 40 km recebo com muito gosto uma garrafa de água devolvendo-lhe a vazia de seguida. Molho a cara, começo a descer para a estrada asfaltada e verifico que o atleta de amarelo é nem mais nem menos o meu amigo Jorge Serrazina e vou no seu encalço. Apanho-o já na rotunda a cerca duns 50 metros da meta, dou-lhe uma palmadinha nas costas em que ele fica surpreendido (confessa-me depois que da ultima vez que olhou para trás vinha alguém bem longe a uns 400 mts, pelo que bastava gerir até ao fim!) e deixo-o entrar na meta primeiro que eu enquanto poso para a foto que a minha esposa me tira. Ouço o meu nome pelo sistema de som, olho para o cronómetro que marca 3h44’58”. Excelente prova!

Da organização dão-me os parabéns e dizem-me que sou o 10º atleta a chegar, o casal do stand da Nutrilite dá-me uma bebida energética e entro no pavilhão onde recebo uma carteira de prémio e uma revista da Sport Life. Dirijo-me à mesa do abastecimento final que é composta por pão, bolos, águas, sumos, aquárius e principalmente “isotónico de cevada” com e sem álcool. Ainda me dizem que existe feijoada mas digo que fica para depois do banho.

A fila para a única massagista é grande, pelo que desisto. Como descompressão vou andando pelo pavilhão, assaltando a mesa dos bolos e a arca das cervejas sem álcool a cada passagem. À quinta ou à sexta passagem já a “chica” me acena com mais uma garrafa na mão e um bolo, mas desta vez opto por uma maçã mas não dispenso a cerveja. Após uma boa hidratação, vou tomar banho e comer a feijoada. Entre garfadas, nós os tugas, vamos conversando sobre as nossas prestações e as dificuldades na prova.

E sem dúvida que os portugueses mostraram os seus dotes em terras espanholas. O pódio feminino é totalmente português, com a Verónica em 1º da geral e do escalão Senior, a Glória Serrazina em 2ª da geral e 1ª Veterana, a Ana Paula Santos – 3ª geral e 2ª sénior, sendo a 3ª sénior mais uma das atletas da Marinha Grande.

Nos escalões masculinos, em Veteranos A (40-49) eu ganho o 3º lugar, e em Veteranos B (+ de 49) o pódio é composto pelo Jorge Serrazina (1º), António Miranda (2º) e Vitorino Coragem (3º), todos portugueses.

Os prémios foram essencialmente enchidos, presuntos e queijos da região.

De salientar que um atleta português do GD Macedo Oculista ficou em 2º lugar na prova dos 25 km (só não ficando em primeiro por não saber onde era a meta e ter sido passado nos últimos 10 metros da prova).

O vencedor da prova foi o Pedro José Hernández (vencedor também da 1ª edição) correndo pelo clube local.

Uma prova bonita, com um lindo percurso típico da zona da Estremadura, bem sinalizado, com bastantes elementos da organização quer em BTT, em motos-4 ou em viaturas ao longo do percurso, tendo apenas como único ponto negativo a falta do abastecimento líquido aos 33 km.

Uma prova que aconselho a fazer, bastante acessível principalmente para quem se queira iniciar em provas de montanha, e com uma organização que apoiou, incentivou e acarinhou toda a comitiva portuguesa.

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TRAIL NOCTURNO DA LAGOA DE ÓBIDOS - 40 km
8 de Agosto de 2009 – 23h00

Correr á noite com uma luz frontal na cabeça, com a preocupação em ver onde se colocam os pés e tentar manter um ritmo competitivo não é uma tarefa fácil.

De memória já me bastava a má (e única) experiência na corrida nocturna da Serra da Malcata que devido à pouca e fraca sinalização me perdi, e me obrigou a desistir e regressar ao ponto de partida.

No entanto, correr à noite é uma corrida com uma mística diferente. E valeu bem o tempo dispendido num treino nocturno efectuado na Serra da Carregueira.

Chegámos a Óbidos pelas 5h30 da tarde e aproveitámos para fazer uma visita à bela vila e dar um passeio pelas muralhas do Castelo. Após um ligeiro jantar num restaurante local, procedemos ao levantamento dos dorsais e os caminhantes dirigiram-se para o ponto de encontro onde um autocarro os levaria à zona prevista para a caminhada.

Após um pequeno “briefing” sobre a prova, o seu percurso e os diversos abastecimentos, no Largo de Sta. Maria, iniciou-se um pequeno aquecimento atravessando a rua principal de Óbidos até á saída sul do Castelo onde se deu inicio à partida deste Trail.

Circundámos o castelo onde se subiu uma escadaria de respeito, e verifiquei que era menos cansativo subir pela vala lateral do escoamento da água do que pelos degraus. Depois descemos por outra escadaria até à plataforma ferroviária. Saímos da Sra. Da Luz para ao fim de poucos metros entrarmos em trilho de terra batida. Nesta altura, com pouco menos de cinco km feitos vou colado à cauda do primeiro grupo, o piso é regular e permite um bom ritmo de corrida.

Sou apanhado pelo Alessandro que após uns cumprimentos prossegue no encalço do grupo. Aparece também o Tiago mas que rapidamente fica para trás devido ao ritmo imposto.

Atravessámos um pinhal e depressa nos aproximamos dos caniçais junto á Lagoa, o trilho agora é um pouco técnico e sinuoso em que temos de progredir mais lentamente. Isto permite-me colar à cauda do grupo.

Chegámos ao primeiro abastecimento, só de água e chá Herbalife. Aproveito para aliviar um pouco a bexiga e regar a flora local, o que me leva a partir atrasado atrás do grupo. Desço uma escadaria ladeada por cordas que me leva até ao rio, e reparo nas luzes dos frontais já na outra margem.

Passo um pontão que à primeira vista me parece feito por troncos mas que afinal são vários tubos de plástico preto atados uns aos outros, e sigo já na outra margem. Não vejo vivalma! Mesmo olhando para a outra margem que já tinha percorrido, continuo a não ver ninguém.

Desta vez, o trilho é largo, plano e bem visível… o que permite um ritmo muito rápido. Embora correr acompanhado é óptimo para nos distrair do esforço que fazemos, o correr sozinho em contrapartida faz-nos sentir uma amalgama de sons e odores dos quais não nos apercebemos.

Saio do trilho e encontro a GNR que me encaminha para a estrada de alcatrão em direcção a Covão dos Musaranhos. Entro novamente no trilho tendo a lagoa à direita e começo a ver pescadores com uma fogueira e algumas tendas do lado esquerdo. É uma parte do percurso agradável em que apenas ouvimos o barulho da água e o som característico das cigarras. Ao entrar no percurso ladeado por cordas, passo um atleta sem qualquer luz que já vai a caminhar e a lastimar-se de ter partido muito rápido. Após a passagem duma ponte começo a cruzar-me com vários caminheiros que me vão incentivando. Nesta altura o vento de frente não ajuda muito. Atravesso uma dezena de metros de alcatrão, para novamente entrar no trilho ladeado por cordas. Aqui cruzo-me com a minha esposa acompanhada pelo pessoal do Mundo da Corrida que me aplaudem, e rapidamente chego ao abastecimento dos 20 km.

Aproveito para comer comida sólida, melancia e um cubo de marmelada e sigo pela areia da praia.

A progressão agora é lenta até chegar à passadeira, que embora com algumas centenas de metros me permite aumentar o ritmo. Entro novamente na praia e a areia corta-me o andamento. Num ritmo lento mas regular vou progredindo sozinho até à subida da duna que quase no topo me obriga a caminhar de gatas. Aí fico um pouco perdido, pois não vejo qualquer marcação. Após tentativas rápidas para a esquerda e depois em frente lá verifico uma pequena placa reflectora por detrás duma elevação.

O percurso agora é sinuoso, entre arbustos, subindo pequenos troncos e com muitas raízes. Aqui a atenção redobra pois torna-se difícil vislumbrar as fitas vermelhas (que bem podiam ser reflectoras!) presas nos arbustos. Há alturas em que para prosseguir tenho de afastar os ramos dos arbustos para o lado. Num destas vezes, com os ramos a roçar a face coloco mal o pé e devo ter tropeçado nalguma raiz e caio aparatosamente para a frente. Tenho apenas uns arranhões na perna esquerda, e sigo novamente no trilho até chegar á praia do rio Cortiço.

Aqui, junto aos chapéus de palha vejo um grupo de quatro atletas perdidos na praia e que grito para lhes indicar o caminho correcto. Conheço apenas o Ângelo que cumprimento e seguimos todos juntos até ao controle/abastecimento dos 24 km. Vou em 28º lugar. Rapidamente limpo a areia dos pés e dispensando o abastecimento ponho-me novamente á estrada seguido apenas por um atleta com o qual nos vamos dando a conhecer. Chama-se Luís Rato e é de Santarém, e é com ele que vou fazer o resto da prova.

Após pouco mais dum km, atravessamos a estrada para entrar em pinhal em que o piso deixa de ser arenoso para ser irregular. Para dar bom nome a este trail, apresenta-se um novo obstáculo representado por uma subida num corta-fogo bem acentuada e de pedra solta que quase me tira o fôlego. O Luís rapidamente se afasta, pois é melhor trepador (ou então sou eu que não o sou…), mas que o torno a alcançar na descida seguinte que era tão perigosa e irregular como a subida. E depressa chegámos à estrada. Desta vez não havia qualquer seta… mas o meu instinto de orientação levou-me a descer o alcatrão umas centenas de metros até que encontro alguém no cruzamento para o Covão de Musaranhos que antes lá tinha passado.

Dizem-me que eu e o Luís vamos em 19º e 20º respectivamente. Algo estava errado, pois não me lembro de termos ultrapassado tantos atletas que justificássemos a diferença de posições. Descemos até á rotunda da nova urbanização, onde esperavam os caminhantes pelo autocarro de regresso e sou incentivado pela minha esposa que me pergunta se quero água. Digo-lhe que não, pois ainda tinha uma das garrafas do cinto com água e sabia que dentro de poucos km teríamos outro abastecimento. O Luís aceita a oferta e vai buscar a garrafa de água.

Subimos a estrada alcatroada e entrámos no trilho de onde viéramos e onde estava uma viatura da GNR. A partir daqui sabíamos que a certa altura teríamos de abandonar o trilho do primeiro percurso, e redobramos a atenção às marcações. E continuámos até ao pontão dos tubos pretos de PVC, onde depreendemos que fosse o desvio, pois no inicio estavam aí duas viaturas!! Mas não!

Estávamos perdidos! Ainda tentámos ir até á Lagoa, mas era escusado. Regressámos ao pontão e experimentámos subir o trilho á esquerda até á estrada. O meu sentido de orientação indicava-me que seguindo essa estrada iria de certeza cruzar-me com o trilho correcto. E pusemo-nos a caminho num ritmo rápido típico de estradistas, frustrados pelo erro no percurso. Penso que onde nos perdemos só pode ter sido aqui nesta ponte, mas não me lembro de nenhuma indicação á excepção duma seta branca no pavimento que depreendemos ser para o BTT, pois existiam fitas vermelhas no sentido da ponte (claro… pois pertenciam ao primeiro percurso!).

Não só nos sentíamos frustrados por estarmos perdidos, como também já não tínhamos qualquer líquido para beber. A garrafa de água que a minha esposa tinha dado já tinha chegado ao fim. Chegámos a um cruzamento, sem qualquer placa indicadora a não ser o sentido duma ETAR, e deparamos com a chegada duma viatura. Dirigimo-nos a ela para pedir indicações, mas a automobilista ao ver dois “marmanjos” em calções, com uma luz esquisita na cabeça e a acenar feitos malucos, nem pensou duas vezes e arrancou com os pneus a chiar, não fossemos nós alguma dupla de violadores ou de “car-jacking”. Ainda lhe chamámos alguns nomes impróprios para aqui mencionar, mas verdade seja dita, que àquela hora da manhã qualquer um teria tomado a mesma atitude.

Chegamos às primeiras moradias e vendo luz numa das casas tocámos à campainha. Uma simpática senhora ainda em robe, veio á janela e lá nos disse que estávamos no Arelho, que seguíssemos pelo Carrascal e que rapidamente chegaríamos a Óbidos. Ainda perguntámos se poderíamos beber água, mas a simpatia ficou por aqui, com a informação de que existem fontes pelo caminho. Agradecemos e seguimos. Passámos uma rotunda (também sem qualquer indicação) e por cerca de meia dúzia de fontes mas todas secas ou com as torneiras fechadas e sem manípulo. Mas que má sorte!!

A estrada sem qualquer luz, não se vendo vivalma e sem se avistar a vila de Óbidos, já nos fazia crer que não estávamos no sentido correcto. A certa altura ouço umas vozes e reparo numa luz saltitante que mais me parecia a luz duma bicicleta. Corro para ela a perguntar o caminho e afinal era de um frontal dum atleta que estava no percurso num nível inferior ao da estrada. Finalmente estávamos no trilho certo.

Perguntámos-lhe a quantos km estávamos e verificámos que tínhamos 5 km a mais. A sede era tantas que íamos tentando e ultrapassando vários atletas numa tentativa de pedir por qualquer líquido. Mas já se viam as muralhas do castelo.

Saímos do trilho entre os caniçais para a estrada e deparámos com a passagem de nível já conhecida. Transpusemos a linha e começámos a subir aqueles degraus já conhecidos e longos até chegar à estrada junto ao portão. Aí somos encaminhados por alguém da organização que nos diz para subirmos as escadas de madeira á esquerda. Lá no topo já o Luís me chamava e incentivava dizendo que faltam poucos metros. E assim foi… rapidamente chegamos à meta, frustrados mas contentes por ter terminado uma bela prova. O cronómetro marcava 3h58’54” com quase 45 km percorridos.

Á nossa chegada, admirava-se o Ângelo, o Zé Sousa das Lebres e outros, do motivo de termos chegado tão tarde pois vínhamos à sua frente. Penso que uma simples seta reflectora onde o percurso divergia do primeiro, ter-nos-ia colocado no circuito correcto e assim evitaria a perda de quase 20 a 25 minutos nesta prova.

O abastecimento final foi um manjar dos deuses. A fruta, os bolos secos, água, coca-cola  e o chá quentinho souberam mesmo bem para que o corpo voltasse ao normal. Apesar de tudo, senti-me bem e com forças, sinal de que estava em forma. Foi pena ter-me perdido mas neste tipo de provas não é situação rara. Para o ano que vem tenho de tirar a desforra!

 

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4ª Edição do Ultra-Trail da Serra da Freita - 60 km
5 de Julho de 2009

Sábado dia 4 – Em pouco menos de 3 horas de viagem, chegámos ao Parque de Campismo do Merujal, no concelho de Arouca, onde se iria efectuar a IV Edição deste Trail.
Este ano o percurso seria diferente das edições anteriores e foi acrescentado mais 10 km, numa distância final de 60 km.

Fizemos a inscrição no Parque, armámos a tenda e fomos almoçar. Como o “briefing” da prova  previsto para as 15h30 tinha sido adiado para as 19h00, devido à pouca quantidade de atletas existentes,  fomos dar uma volta e visitar a queda de água de 60 metros da Frecha da Mizarela que fica a pouco mais de um quilometro do parque.

Regressados ao parque, procedemos ao levantamento dos dorsais e fiscalização do equipamento obrigatório a cada atleta e assistimos ao “briefing” da prova, efectuado pelo José Moutinho da Confraria Trotamontes.

De seguida fomos jantar ao restaurante do parque de campismo, refeição esta incluída no valor da inscrição. A refeição estava bastante boa, composta por sopa de Pedra Parideira (do género da sopa da Pedra de Almeirim), massada de carne, vinho ou sumo, fruta e café.

Ainda estivemos a ouvir diversas peripécias engraçadas que aconteceram ao Moutinho, durante a marcação do percurso, e de seguida fomo-nos deitar. A noite apresentava-se muito fria. No entanto garantiram que era normal e que no dia seguinte poderia estar bastante quente.

Domingo dia 5 – A madrugada apresentava-se chuvosa e enevoada. No local de partida cumprimento diversos atletas conhecidos, e falo com o pessoal do Milennium BCP, nomeadamente com o Pedro Silva, e dou-lhes os parabéns pelo Trail de Verdon que terminaram recentemente, bem como ao grupo que fez o Alpino Madrileño.

A partida foi dada às 6h10 da manhã e lá saíram os cerca de 130 concorrentes para um Trail nas serras do concelho de Arouca. Dirigimo-nos para a Mizarela e viramos em direcção a Albergaria da Serra. O pelotão alongou-se e depressa nos vimos em pequenos grupos de atletas. O piso relvado convidava a um ritmo mais forte mas decidimos dosear o esforço. Nesta altura seguia com o Herculano e em conjunto mantínhamos um trote quase a ritmo de conversa.

Houve um sítio em que tivemos de “pular a cancela” e rimo-nos de que mais surpresas nos iria aparecer. Perto dos 6 km descemos para a ponte sobre o Rio de Frades e virámos à esquerda para Tebilhão. Rapidamente entrámos nas Portas do Inferno e seguíamos o Trilho do Carteiro.

Uma descida bastante acentuada num piso técnico de pedra solta e de lajes. Tomo a dianteira e lanço-me a fazer a descida que é um dos meus pontos fortes. Com surpresa, há um atleta que me pede para passar. É o Pedro do MBCP que desce a uma velocidade incrível.

Entramos na estrada asfaltada para pouco depois virarmos para o rio, numa descida perigosa de terra batida e calhaus soltos que nos impede de travar pois senão era queda certa.

O rio é duma beleza indescritível mas ao mesmo tempo repleto de pedras escorregadias. Os chuviscos que caiem também não ajuda a progressão. A humidade é tanta que o suor escorre-me pela face. Estamos a cerca de 17 km percorridos e com 1h46 de prova e temos de fazer mais 2 a 2,5 km pelas margens do rio. O Guilherme Hora já vem de regresso à procura de cuidados médicos apresentando o joelho ensanguentado. Tinha caído nas rochas escorregadias!

Sempre seguindo as fitas de sinalização, alcanço o Aníbal Godinho, o Herculano desaparecia á minha frente seguindo o rio que tão bem conhece. Prosseguindo com todos os cuidados rapidamente somos alcançados por mais atletas, entre eles o Nuno Santiago que segue comigo.

Chega a altura em que é necessário atravessar o rio. O Nuno é o primeiro a atirar-se á água e eu lentamente tento sentir o fundo com os pés mas facilmente escorrego e acabo por emergir totalmente e resolvo nadar até à margem onde o Nuno me dá a mão para me ajudar a transpô-la. Ainda bem que tinha colocado o material dentro do “camelbak” em sacos herméticos senão o telemóvel “morreria” afogado!! Mais à frente temos de transpor o rio para a outra margem, mas desta vez a água não era tão profunda e resolvo entrar nela em vez de saltitar pelas pedras que não me pareceram tão seguras. Já tinha escorregado por diversas vezes e não quis arriscar. Saio do rio por um trilho íngreme à direita depois do moinho de água e alcanço a estrada que vai para Covelo de Paivô. Aí sou questionado pelo pessoal médico que me pergunta onde se encontra o atleta (o Guilherme) que se tinha ferido no joelho. Sigo para a povoação e cruzo-me com o Inácio Serrazina que apresenta um grande corte na mão direita e que precisa de assistência médica. Indico-lhe o local onde estava a ambulância e sigo para a povoação onde estava o primeiro abastecimento (20 km). Aqui já se vê imensos atletas a mudar de meias.

Apesar de ter bebido pouca água do Camelbak, aproveito para o encher e como fruta, especialmente a melancia que sabe tão bem. Agarro num cubo de marmelada e arranco com o Nuno pela estrada empedrada. No passado o percurso seguiria por uma subida à Cumeada pelos três pinheiros, mas desta vez encaminham-nos para um trilho sinuoso à esquerda de extrema inclinação, que nos iria levar a Regoufe e à aldeia de Drave.

Um trilho muito técnico e difícil, na maior parte feito de lajes, que sobe a serra tendo à nossa direita uma linda paisagem com vista para as eólicas e a subida dos três pinheiros. Aqui o grupo é formado por mim, o Nuno e o Aníbal. Aos poucos vou perdendo-os de vista, pois eles são melhores trepadores do que eu.

Quando começamos a descer para Regoufe consigo apanhar o Nuno e lá vamos os dois novamente para uma subida em terra batida até ao alto da serra, seguido depois duma descida abrupta sobre um trilho de cascalho até Drave. Aqui juntamo-nos a mais alguns atletas que se tinham perdido, entre os quais o Ângelo de Gondomar que me salvou numa situação crítica durante a prova de Ronda.

À saída de Drave atravessamos uma ponte para logo de seguida iniciarmos mais uma grande subida por um trilho serpenteante de difícil progressão. Aqui já se começa o pelotão a compactar e alcanço a Ana Gomes, a segunda concorrente feminina.

O S. Pedro, como que para suavizar o nosso sofrimento, resolve benzer-nos com uma chuvinha miúda. Nesta subida, começo a sentir os mesmos sintomas de cãibras que tive em Ronda, e peço ao Nuno para me tirar uma ampola de magnésio do Camelbak. Bebo-a e descanso um pouco e os sintomas vão desaparecendo. O Nuno continua e desaparece e desta vez tenho como companheiro o José Carlos Fernandes com o qual vou conversando e falando de amigos comuns como o Fernando Fonseca e a Céu, e a conversa leva-nos ao topo num ápice.

Aí no topo, cerca dos 28 km, um elemento da organização diz-nos numa frase tranquilizadora “- Isto não é nada! Vocês ainda vão ter de subir aquela serra ali em frente!!”. Bem… pensei eu… foi para isso que eu cá vim! E começo a fazer uma descida em estradão serpenteante que nos vai levar até à aldeia fantasma de Gourim.

A rua principal da aldeia é feita (ou talhada) em pedra única ligeiramente inclinada, que sendo molhada nos fornece uma excelente pista de “sku”, situação esta que me apanhou de surpresa e lá eu fiz a curva descendente sentado até à saída, salvo com uma queda em terreno fofo de erva molhada. Felizmente não me aleijei, à excepção dum pequeno hematoma na palma da mão direita. Fui directo ao rio, lavei-me e aproveitei para beber um pouco daquela água tão fresca, situação esta que foi aproveitada por outros atletas. Seguindo o rio por uma centena de metros encontrei outro companheiro, o Vitor Coelho, que também tinha estado em Ronda.

Á saída do rio, repentinamente as fitas sinalizadoras acabavam! Quando olhámos para cima à esquerda deparou-se-nos aquela que iria ser a subida mais crucial de toda a prova, a subida por um dos dedos da “Garra”. Uma subida de terreno agreste de urzes e lajes, sem qualquer trilho visível, tendo apenas para nos orientar fitas espalhadas pelo terreno ou agarradas às rochas. Apesar da neblina que se via no topo, ainda conseguíamos escrutinar pequenas silhuetas coloridas dos atletas que nos precediam.

Como num corta-mato, cada um escolhendo o trilho que nos parecia mais acessível sem que precisássemos de pisar as lajes que nos fez escorregar por diversas vezes, lá íamos nós, literalmente de “gatas”, agarrando-nos às pedras salientes que nos ajudasse a trepar. Embora chuviscasse, ou a humidade ou a altitude, tirava-nos o fôlego. Nem descrevo aqui o chorrilho de pragas que desejei ao Moutinho, embora interiormente desejasse que ele tivesse sofrido mais do que eu quando andou a marcar o percurso!! Aquela subida de quase 6 km era desesperante. A meio, onde se situava um maciço de pedras altas pontiagudas, resolvi parar e descansar o tempo que fosse necessário até ter força para continuar.

Dum modo automático, outros atletas fizeram o mesmo. Um deles, o Carlos Maurício, já repetia que ia desistir. Nunca o tinha feito, mas que esta seria a sua primeira vez. O Vitor Coelho dizia o mesmo. Tanto eu como o Zé Carlos Fernandes lá íamos incentivando para que chegássemos ao topo. O C. Maurício acusava cãibras. Ainda lhe propus usar o aerosol analgésico que trazia comigo, mas não aceitou. Tomei um gel energético e ganhei força para continuar e tentar incentivar os restantes. Aos poucos fomos subindo até que chegados ao topo uma senhora nos oferecia uma garrafa de água fresca que rápido agradeci. Soube-me lindamente! Ao Vitor já não lhe caiu tão bem pois fartou-se de vomitar!

Seguimos todos por uma subida de estrada asfaltada e rapidamente o grupo se reduziu a dois, eu e o Vitor. No topo, fizemos jus ao equipamento obrigatório. Vestimos os corta-ventos para enfrentar a chuva e o nevoeiro gelado que nos fustigavam.

A estrada descia desta vez até vermos a placa que dizia Coelheira, sinal que deveríamos estar a pouco menos de 3 a 4 km para o segundo abastecimento. Entrámos novamente no trilho á direita e fomos descendo entre vinhas e latadas até á povoação, seguindo depois pela estrada até uma fonte em que virámos para uma pequena barragem. Ao contornar a rede duma quinta fomos aplaudidos por gente simpática que nos dizia que o abastecimento era já ao virar da esquina.

Aqui no abastecimento dos 40 km demorei-me um pouco mais e comi um pouco de tudo, mas o que me soube melhor foi sem dúvida a melancia. Enchi o camelbak de água e as garrafas do cinto com isotónico, pois ainda faltavam 20 km para terminar. O Moutinho dizia-me: “tens uma subida mas depois é a descer até ao Salgueiro!”

À saída do abastecimento passam-me os irmãos Neves, cumprimento-os e sigo atrás deles. O percurso agora é a subir e por uma espécie de leito de rio, pedregoso e com água. No topo da subida apanho o Rui Fernandes e o Mário Bernardo que me tinham passado no abastecimento, e pouco depois temos o Vitor de volta ao pé de nós. Damo-nos a conhecer e o Mário diz-me que é um velocista dos 400 mts e que nunca tinha feito um Trail. Na brincadeira, digo-lhe que já tinha completado 100 repetições de 400 e já só faltavam 50. Responde-me que nunca mais volta a fazer uma prova destas, o que cá mim duvido, pois sei que fica cá o “bichinho”!

Começamos a descer por um estradão no meio da neblina e cruzamo-nos com os dois atletas do NAM, Ana Gomes e Fernando, que se perderam momentaneamente. Voltamos um pouco atrás e verificamos a saída á esquerda com as fitas sinalizadoras. O trilho agora desce por um aceiro estreito, pedregoso e escorregadio, cheio de silvas. Até ao fim do aceiro, arranhei-me nas pernas e escorreguei cerca dumas quatro vezes, numa delas quase que me sentei numa bosta fresca acastanhada em helicoidal até ao topo, exactamente como gostamos de as ver!!!

Entro depois num trilho em pinhal que me faz lembrar os da serra de Sintra e apanho os irmãos Neves. Seguimos juntos até Abundância onde o percurso nos obriga novamente a mais uma subida em piso instável e de pedra solta. Tanto o nevoeiro como a chuva tinham parado, dando lugar a um ambiente abafado e muito húmido. Páro e arrumo o corta-vento na mochila pois sentia-me a desidratar com o calor, enquanto a Ana Gomes muda mais uma vez de meias.

Mais uma vez o Vitor junta-se a mim (eu desço melhor e ele sobe melhor!), e lá seguimos por entre quintas, vinhas, campos de cebolo ou de milho, passando por Gestozinho, onde somos passados pelo meu já conhecido - António Duarte do Igreja Nova, e chegamos finalmente ao abastecimento dos 50 em Gestoso.

Os atletas do NAM partem primeiro enquanto nós atestamos o corpo com alimentos sólidos, desde frutos secos, sandes, fruta e bolos. Este seria o último abastecimento em sólidos e o próximo seria de água apenas aos 55. Seguimos trilho acima e o nevoeiro começa a ficar mais denso. No topo cruzamo-nos com um pastor de cabras que nos pergunta donde somos. Respondemos-lhe e o homem diz-nos que viemos de muito longe.

A certa altura deixamos de ver as fitas. Continuamos em frente até chegarmos à estrada. Aí, definitivamente não era o caminho certo, existiam fitas mas eram brancas. Saído do nevoeiro aparece-nos um atleta que já nadava perdido há mais de dez minutos, já tinha percorrido alguma das alternativas mas não viu fita nenhuma. Mandou-se parar uma viatura mas o condutor informou que não tinha visto atleta nenhum. Resolvemos os três voltar atrás até à última fita. No regresso cruzamo-nos com outro atleta perdido, o José Ferreira.

Quando chegámos ao local do pastor, encontramos umas pedras na estrada o que significa que deviam estar a sobrepor alguma fita. Vamos encontrá-las amachucadas e presas na vegetação. À nossa esquerda está um marco pedestre que indica uma rota pedestre para caminhantes, mas que também não tem qualquer fita. Junta-se a nós o Zé Carlos Fernandes e o Antonio Magalhães. Finalmente ao fim duma centena de metros dessa rota, o Zé C. Fernandes grita-nos que descobriu a fita. Estávamos de volta ao trilho. Repusemos as fitas para que os restantes atletas não se perdessem e lá vamos nós outra vez!

A partir daqui, começámos a galgar os montes e a descer para a povoação de Castanheira. Do Zé Carlos e do António Magalhães já nem os vimos…  como ponto de referência, apenas víamos ao longe o rapaz da Cruz Vermelha em BTT a carregá-la

Chegados ao último abastecimento na povoação de Castanheira (um dos dois sítios do mundo onde existem as Pedras Parideiras) e que era só de água, e engraçado, ficava mesmo em frente a um chafariz. Lá bebemos um pouco de água e seguimos entre as quintas em direcção ao rio. Ainda nos faltava uma subida até Mizarela. O Vitor já dizia para seguirmos sem ele, mas continuávamos a incentivá-lo.

Quando chegámos ao topo e começámos a descer, esbarrámos com umas vacas com cara de poucos amigos, que espantadas meteram-se trilho a dentro e tivemos de as contornar, sempre sob o olhar atento delas. Aqui para nós… aqueles cornos metem respeito!!

Sempre a contornar o muro, entrámos na povoação (penso ser Cabaços!!) e deparamo-nos com uma descida empedrada coberta de bosta de vaca, totalmente empastelada tipo pocilga. Não havia fuga possível!! Fiquei na dúvida!! Desço-a em corrida ou lentamente?? Pela minha mente visionava uma bela duma escorregadela e um “photo-finish” na meta bastante vergonhoso. Ah, não… nem que tivesse de ir tomar banho á catarata da frecha da Mizarela!!

Mas não. Desci em corrida, fiz a curva seguinte de braços abertos como estabilizadores (não fosse o diabo tecê-las!!) e felizmente passei um dos mais “duros” obstáculos da prova. A partir daqui descemos por um lindo relvado até à ponte de Mizarela, e conhecendo já o caminho, disse aos meus colegas de prova que iria aumentar o ritmo pois faltava pouco mais de um quilómetro.

A poucos metros do final da prova, cruzo-me com a minha esposa, dou-lhe um beijo, e sob muitos aplausos faço a descida empedrada para a meta. No meu cronómetro marcava 9h34’06” coincidente com o das classificações.

De seguida, fui tomar um bom banho, mudar para uma roupa mais confortável para enfrentar a chuva que continuava a cair, e comer a refeição incluída na inscrição.

Um caldo verde quentinho e duas febras no pão que souberam a pouco. No final, fui levantar o prémio de participação constituído por uma ardósia negra com inscrição da prova e respectivos patrocínios.

Em resumo: Uma prova bastante dura, mas bem organizada pela Confraria Trotamontes e GD 4 Caminhos, com bons abastecimentos bem diversificados desde fruta, água, Isostar, coca-cola, bolos secos, etc., e de paisagens de uma beleza inigualável.

Dou razão á organização no equipamento obrigatório (embora não houvesse qualquer controlo do mesmo após o levantamento do dorsal, o que poderia levar atletas a não o cumprir), e na minha opinião deveria ter existido um abastecimento aos 30 km.

Felizmente para todos, atletas e organização, o tempo esteve encoberto e chuvoso embora húmido. Porque se estivesse calor, garantidamente que o número de desistências ultrapassaria mais de metade e não se conseguiriam os tempos obtidos.

  

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13ª Edição dos 101 km de Ronda
16 de Maio de 2009

“El dolor es temporal, el orgullo es para siempre”

Há cerca de um ano atrás quando ouvi falar desta prova, começou-me a “roer o bichinho” em tentar completar uma façanha destas.

 Embora goste de treinos longos, sabia de antemão que me teria de preparar a sério para uma prova desta natureza. Assim, logo que iniciou o ano elaborei um plano de treinos para esta prova, que sabia iria ser difícil.

Infelizmente, um pequeno percalço na prova do Duatlo do Jamor no dia 1 de Fevereiro, retirou-me a possibilidade de treino durante quase mês e meio, reduzindo assim para um período de apenas dois meses de preparação.

Nunca antes tinha treinado tanto, e com tanto afinco, perfazendo quase 550 km em cada mês. Surpreendentemente, verifiquei que o corpo reagia bem à carga intensiva de treinos com excelentes recuperações. De facto, quando antigamente demorava bastante tempo a recuperar duma Maratona, agora o corpo respondia normalmente a um esforço desta natureza quase semanalmente. Sentia-me fisicamente e mentalmente preparado para esta prova. Os treinos conjuntos com amigos com o mesmo objectivo ainda mais me motivavam.

Tinha em mente dois objectivos:

1º - Terminar a prova

2º - Se possível um tempo entre as 12 e as 12h30

Dados da Prova:

Distância : 101 km

Desnível subida acumulado: 2.423,95 mts

Desnível descida acumulado: 2.432,30 mts

Subidas > 15% : 11,832 km

Altura máxima: 894,64 mt

Altura mínima: 425,04 mt

 

  Inscritos Chegados Melhor tempo
Marchadores 3.425 2.095

9h31'14"

MTB 3.473 3.005 3h44'30"
Duatletas 572 486 4h54'14"

Total :

7.290 5.586  

 

6ª feira – 15 de Maio

Saímos de Lisboa num autocarro alugado com duas dúzias de atletas mais os acompanhantes com destino a Ronda, uma cidade situada perto de Málaga na Andaluzia, no sul de Espanha. Á passagem por Badajoz ainda apanhámos um amigo espanhol, o Prudêncio, que seguiu connosco.

Chegados a Ronda dirigimo-nos de imediato ao Pavilhão Polidesportivo onde iríamos pernoitar e também onde estava situado o secretariado da prova. Fomos recebidos pelos Legionários (e Legionárias!!) com bastante amabilidade e disciplina militar mostrando uma organização bastante eficaz. Procedeu-se ao levantamento de alguns dorsais e respectivos passaportes, embora muitos de nós já os tivéssemos recebido por correio, e à alteração do titular de alguns dorsais para o nome de outros. Levantámos também o saco de ofertas com uma T-shirt e alguma informação sobre a Legião e sobre a prova em concreto. Já se notava uma animação crescente com grandes filas de atletas a fazer o seu “check-in” e a validar o seu passaporte.

De acordo com informação afixada, estavam inscritos cerca de 7.427 atletas, distribuídos por 3.000 BTT, 600 Duatletas, 2.500 marchadores (corredores) e equipas de 5 marchadores.

Após a preparação da área onde iríamos dormir (sacos-cama, colchões, etc… ) dirigimo-nos à zona da meta, onde estava instalada a feira da prova e o local da “Pasta-party”, e também o local de entrega dos sacos dos atletas que poderíamos deixar aos 53 (Setenil) e aos 77 km (Quartel).

Já todos íamos preparados com dois sacos, embora eu à última da hora optasse por não usufruir do primeiro com receio de perda de muito tempo no seu levantamento, pois mesmo que não o utilizasse teria de o levantar e entregar para que fosse levado para a chegada, caso contrário só seguiria no final das 24 horas de prova. Assim, só procedi á entrega do saco dos 77 km, em que incluí roupa quente (pois esta última quarta parte da prova iria ser feita de noite e a noite já prometia ser fria), um frontal, meias, ténis, vaselina, pensos para bolhas, Voltaren, isotónico e gels.

A feira apesar de não ser muito grande, apresentava diversas tendas de interesse desportivo embora mais predominante para a modalidade de BTT, abarcando quase a totalidade do jardim. A pasta estava óptima, tipo “bolognesa”, com pão, doce e acompanhada de uma boa cerveja.

Regressados ao pavilhão, verificámos um afluxo enorme de atletas e bicicletas, e preparámo-nos para uma noite descansada, embora soubéssemos que dentro dum pavilhão repleto de gente, não iria ser fácil.

 Sábado – 16 de Maio

Às 7 horas da manhã (6 horas portuguesas) somos acordados com o toque de alvorada a cornetim tocado por um Legionário. Risadas e palmas… e toca a despachar pois temos de entrar no complexo desportivo da Partida antes das 10h15. Fazem-se os últimos preparativos, trocam-se “galhofas” para desanuviar o nervosismo, tiram-se as fotos da praxe, e lá vamos nós.

Às 10 horas já se notava um calor anormal, o que para mim não é uma sensação agradável pois como suo bastante desidrato-me com muita facilidade. Levo chapéu, óculos escuros e coloquei um protector solar bastante forte (Factor 50 !!!). Levo também um cinturão com duas garrafas de isotónico e gels.

O complexo desportivo está cheio de atletas e as bancadas repletas de gente. Facilmente os “Tugas” se encontram e vemos caras conhecidas, pessoal do Norte, as Lebres do Sado e outros amigos que nos foram apresentados. Pelas 10h30 partem os BTTistas, levando quase meia-hora até saírem do recinto. 5’ depois das 11, houve-se a partida dada a tiro e só quando estávamos a sair do recinto é que se ouve o tiro de canhão que deveria dar a partida.

Percorrem-se as ruas da cidade em direcção á saída aplaudidos por uma multidão de gente que nos incentiva, e saímos para uma espécie de lezíria. Após o primeiro abastecimento aos 5 km, deparamo-nos com a primeira subida, curta mas acentuada, que faz com que a façamos a andar em vez de correr. No topo da subida, um residente local e a sua família, beneficia-nos com água duma mangueira e rebuçados. Até ao campo de tiro dos Legionários em Navetas (km 15), o percurso é um pouco poeirento derivado da passagem recente das BTT. Após o controle em Navetas com um carimbo no passaporte, o percurso torna-se agradável e sinuoso entre árvores. Iremos percorrer perto de 13 km dentro deste recinto. Até aqui, tanto eu como o meu colega de prova, Ricardo Diez, íamos num ritmo de 5’20 a 5’30/km. Pouco atrás de nós, seguia o João Faustino e o Pedro Basso.

Nesta altura já se vêem muitos ciclistas com problemas nas suas BTT, desde furos, correntes partidas, rodas empenadas, mudanças estragadas, e algumas câmaras-de-ar furadas e abandonadas.

Á saída de Navetas cruzamo-nos com centenas de marchadores/caminhantes que pretendem fazer a sua prova dentro das 24 horas. Carregados com o equipamento completo dum típico caminheiro (mochila, bastões, chapéu, perneiras, botas, etc), e incentivam-nos com gritos de “Venga, venga, animo, campeones”. Passamos por debaixo da auto-estrada e dirigimo-nos para Arriate.

Antes da vila, atravessamos uma zona rural, em que o calor em conjunto com o odor a estrume proveniente de alguma vacaria ou pocilga se torna nauseabundo. A meio desta grande descida, residentes com mangueiras vão satisfazendo a sede aos atletas. Apesar do calor, existe tanta gente nas ruas a incentivar que quase perdemos o 7º abastecimento. Encho uma das minhas garrafas com isotónico, como vários gomos de laranja e peço uma garrafa de água para levar. Estamos no km 34 e inicia-se o primeiro “muro” da prova, uma subida pela “Sierra de las Salinas” com uma extensão de quase 6 km. Um trilho de pedra solta de grande inclinação, bafejado por um sol abrasador que quase queima a garganta. Enquanto caminhamos vou sorvendo pequenos goles de água para evitar a desidratação. A meio da subida eu e o Ricardo somos alcançados pela Verónica (que seria a 2ª classificada feminina) e o Aníbal que lhe vem a marcar o ritmo. Enquanto até aí, a minha frequência cardíaca variava entre as 125 e as 136 b.p.m, subiu para 157 chegando a emitir o aviso do apito ao ultrapassar as 175.

Decidi abrandar, e deixei o Ricardo seguir, pois tínhamos combinado que nas subidas ele como melhor trepador seguia e eu como desço melhor, alcançava-o nas descidas. Chegado ao topo ao km 40, deparo com o Jorge Serrazina deitado debaixo duma árvore. Tal como eu, também se queixa do calor, e deixo-lhe a garrafa ainda com metade da água, pois sabia que iríamos ter um abastecimento á marca da maratona.

Chego ao abastecimento, e bebo coca-cola e como fruta. Encosto-me ao muro e subitamente o atleta que está ao meu lado cai direito ao chão completamente inconsciente. Tento agarrá-lo e sou atacado com uma cãibras terríveis que mal me aguento de pé. Rapidamente aparece um médico em meu auxílio, mas digo-lhe para atender o outro atleta. A coxear dirijo-me ao auto-tanque e ponho a cabeça debaixo da torneira. Este arrefecimento da temperatura corporal dá-me alento para retomar a corrida. Olho para trás e vejo o outro atleta a ser colocado numa ambulância. Ao fim dum par de km voltam as cãibras que me obrigam a deitar-me. Aqui sou auxiliado pelo amigo Ângelo, um veterano de Gondomar que conheci na última TransEstrela, que me massaja os pés e me acompanha lentamente nos km seguintes. Um verdadeiro Angel (desculpa o trocadilho!).

Passamos o controlo de passaportes e começamos a descer para o próximo abastecimento que seria só de auto-tanque aos 48 km. Aqui sou alcançado pelo Pedro Basso e o Herculano da Real Academia, que me questiona se vou bem. Outro atleta português me cumprimenta dizendo que é um grande amigo do Paulo Torrão da Açoreana, e denomina-se Sandokan de Santarém. Faço sinal ao Ângelo para seguirmos mas ele acena-me para continuar e sigo estrada de asfalto abaixo até Setenil juntamente com o Sandokan. A meio da descida deparo-me com o Aníbal que se encontra cheio de cãibras encostado ao rail da estrada. Dirijo-me de imediato para o ajudar, mas o atleta espanhol que seguia à minha frente agarra-o e começa a massajar-lhe os pés (não há dúvida que existe um grande espírito de entreajuda neste tipo de corridas!). Rapidamente e sem saber donde, aparece uma ambulância da Protecção Civil que se encarrega dele (mais tarde venho a saber que levou umas injecções, que desistiu a conselho médico e levaram-no para a meta).

Nesta altura já os atletas se questionavam onde estava o abastecimento, pois o Garmin já marcava mais de 53 km. Dou um pouco da minha água ao Sandokan que me retribui com um pouco de Voltaren quando me recomeçam as cãibras. Passamos o rio e entramos em Setenil de Las Bodegas, uma localidade que tem as suas casas encastradas na rocha junto ao rio. Corremos por essas ruas tendo por tecto essas rochas, e ao receber os incentivos junto das esplanadas e agradecendo com um “Obrigado” respondem-me que um colega meu de bigode (o Eduardo Santos) estaria em 2º lugar.

Chegados a Setenil e verifico que estamos no km 58 em vez do 53. Mais tarde venho a saber que na realidade se cumpriram os 101 km, mas que fizeram um desvio diferente ao ano passado para passarmos por dentro de Setenil. No entanto, esta situação causou uma distância de quase 10 km sem abastecimentos.

Em Setenil, era um dos lugares chave onde se poderia deixar um dos sacos. Com surpresa verifiquei que tinham os sacos dispostos numericamente e que afinal até era bastante rápido o seu levantamento. Encontro-me com o Ricardo, o Herculano e o Pedro. Como fruta, sandes de fiambre e barra de cereais. Sento-me um pouco para descansar, e as dores derivadas das cãibras voltam a atacar. O Ricardo e o Herculano seguem, e eu e o Pedro vamos até à zona das massagens. Somos atendidos por alunas de Fisioterapia supervisionadas por médicos bastante competentes, embora com certa dificuldade em comunicarmos pelo que tive de falar em inglês. Enquanto o Pedro estava a ser observado aos joelhos eu recebia uma excelente massagem com óleo de amêndoas relaxadora. Mal o Pedro se levantou da marquesa, eu tal como uma mola, levanto-me de imediato agradecendo para que seguíssemos juntos. Olho para o cronómetro e tínhamos perdido cerca de 45 minutos na sala.

Na altura em que saíamos, juntámo-nos ao Nuno Santiago e ao Jorge Serrazina e seguimos em conjunto. O Nuno liga para a esposa e eu aproveito a chamada para dar notícias à minha. Vamos no km 60 e temos mais 10 km sempre a subir. No abastecimento intermédio, deixo de poder acompanhá-los e eles seguem enquanto eu limito-me a caminhar. No topo, junto a uma ganadaria, inicia-se uma descida tipo “kamikaze” de quase 5 km, que me permite uma boa recuperação e tornar a alcançar os meus companheiros. O Nuno esse já ia bem lá à frente.

Chegamos ao Cuartel dos Legionários ao km 77 com cerca de 9h00 de prova, e fomos comer finalmente uma refeição quente. Nesta altura já o Ricardo se preparava para sair. A refeição era constituída por uma sopa (caldo e uns bocados de presunto!!), um cachorro, batata-frita e um “cordon-bleau” de queijo e fiambre, acompanhado de uma coca-cola bem fresca. Repleto de nutrientes, procedi de imediato à troca de roupa, meias e sapatos, e à colocação do frontal. Chega o meu amigo José Magro surpreso por me ver ali, e ainda me ajuda a apertar os sapatos. Chamo os meus companheiros para sairmos e verifico que o Pedro se encontra bastante mal. Á minha pergunta de como ele se chama só repete que vai desmaiar. Digo-lhe que o melhor é ele desistir, e responde-me que quer vomitar. Chamo um médico e parto deixando-o para trás com o Jorge Serrazina.

Faltam só 24 km para chegar, são 9h30 da noite e penso cá para mim que ainda estou dentro do meu objectivo das 12 ás 12h30 de prova. Mas não… ah… não!!!

Á saída do Acuartelamiento verifico boquiaberto a dimensão da subida que vou ter de transpor, cerca de 6 km com uma inclinação que nunca vi (nem mesmo nos meus treinos duros na Serra de Sintra), e ao mesmo tempo vejo atletas no seu regresso já na estrada principal. Resumidamente pensei cá para mim (F****, vou subir esta porra só para me carimbarem o passaporte lá em cima e depois volto a descer até aqui!!). A meio da subida começo a encontrar atletas que descansam. Passa o Jorge por mim em franca progressão graças aos seus bastões e rapidamente desaparece. Ainda tento procurar um pau ou uma cana para me apoiar, mas nada. É muito difícil a minha progressão e sempre com as mãos nos joelhos e nariz colado ao chão, tenho a certeza que se me endireitasse um pouco cairia de costas e viria a rebolar até cá abaixo. Não é à toa que lhe chamam a subida ao Purgatório. Como começa a escurecer, tento não parar até chegar ao topo o qual atinjo com uma respiração ofegante. Sento-me num muro junto à Ermida, e logo de seguida aparece um residente atraído pelo ladrar dos cães que vem com um jarro de água e um copo de vidro. Embora não tivesse sede, bebi e agradeci pelo gesto. Ligo o frontal e começo a grande descida para Cuevas Del Gato. A escuridão e a irregularidade do piso juntamente com a visão dos precipícios, obriga-me a uma descida lenta e cautelosa. Olhando para baixo para a vila de Montejaque vejo uma fila de luzinhas saltitantes como formiguinhas no carreiro, marcando qual seria o meu percurso a curto prazo.

Chego ao abastecimento e controlo de passaporte aos 84 km e peço ao médico um pouco de spray analgésico, que faz milagres. Apanho a estrada de asfalto e faço a descida até Benaoján sempre em grande ritmo na tentativa de recuperar o tempo perdido. Rapidamente chego ao abastecimento e sou encaminhado em direcção ao rio onde cruzo a linha de caminhos-de-ferro. A partir daqui entro num single-track escuro e sinuoso, muito técnico que me obriga a caminhar com receio de uma possível queda. O percurso encontra-se marcado com uns bastões verde-luminescentes que nos auxilia bastante. O meu maior receio é de que se acabem as baterias, pois a escuridão é total e não se vê vivalma. Finalmente chego a uma subida em que no topo se encontra a Guardia Civil que me encaminha para a esquerda. Lá ao longe já se começam a ver umas luzinhas vermelhas intermitentes que foram entregues aos atletas. Cerca dum km depois sou encaminhado de novo para o rio e chego ao abastecimento dos 90 km. Agarro num bolo e numa banana e sigo caminho aproveitando a companhia de dois atletas espanhóis que reentravam nos trilhos. Uma troca de palavras e de cumprimentos, e um deles chamado Fernando diz que faz corta-mato e que conhece muito bem muitos atletas de elite portugueses. Finalmente chegamos a um estradão de cascalho branco em que verifico atletas em sentido contrário. Nesta altura passa por mim o José Magro como uma flecha, em que apenas tenho tempo de o cumprimentar. Largo os companheiros e tento alcançar o Zé. Afinal os atletas que vêm em sentido contrário são duatletas e têm outro percurso diferente do nosso. Na escuridão perco o Zé e já só o vejo ao longe junto do abastecimento dos 95 km.

Pergunto à legionária se falta muito, e ela num riso trocista diz: “Tienes una subida de que nunca más iras olvidar!”. E bem dito… mal feito. Malvada subida… num empedrado serpenteante, em que se esticasse o braço tocaria o chão de imediato. Quase no topo desta subida consigo alcançar um veterano que se surpreende de eu o ultrapassar sem bastões, mas o meu único pensamento era em ultrapassar este derradeiro obstáculo. Chegado ao topo, dizem-me que apenas falta uns 750 mts e encaminham-me para a subida do castelo. Nesta altura o melhor era caminhar, mas o meu último companheiro de barbas brancas não gostou que o passasse e resolveu dar corda aos bastões para me deixar para trás. Num derradeiro esforço tento acompanhá-lo e quando chego á ponte romana sou incentivado pela minha esposa e pela claque do Mundo da Corrida, mas o empedrado da ponte obriga-me a circular pelo passeio e o nosso amigo galgou este últimos metros e chega primeiro á meta.

Paro o meu cronómetro e retiro o passaporte para o controlo final. Verificam todos os carimbos e passam o chip no leitor. E logo de seguida ouço um grito: “Tienes dos chips??” – espantado respondo: “O quê? Só um… vejam!!”. Afinal, o leitor quando leu o chip do atleta que me precedeu reactivou conjuntamente com o meu, fazendo duas marcações.

Tudo esclarecido… recebo o medalhão da prova, revejo o cronómetro e terminei com 13h43’ 41”. Bem longe do meu segundo objectivo que era terminar antes das 12h30, mas o tempo que perdi na massagem em Setenil teve como consequência mais percurso a fazer de noite e muito mais lento.

Fui buscar a Camisola da prova e outra decepção… não tinham o tamanho que pedi (L), e o que me deram era mais pequeno (M). Vou comer a ceia da chegada e o macarrão estava azedo que quase vomitei… (afinal era feito com vinagre!!), dou uma dentada no panado de porco e achei-o duro.

Larguei a comida e fui levantar o diploma… 88º VET na Marcha Civil. Não indicava qual o lugar na geral. Fui até à tenda das massagens e encontro o José Magro que se encontrava na fila de espera cá fora da tenda. Enquanto esperava comecei a entrar em hipotermia e vesti o blusão que tinha dado á minha esposa. Comecei a sentir náuseas e vomitei a ceia. Aquele azedo deu-me volta ao estômago.

 Á entrada na tenda, somos ultrapassados na fila por dois atletas espanhóis e de nada nos valeu reclamar. O Zé Magro cede-me o seu lugar e vou à massagem primeiro. Enquanto estou na marquesa recomeço com frio e colocam-me de imediato uma manta térmica e um cobertor. Durante a massagem quase que adormeço… hehehe… estava tão quentinho e cá fora estava um “grizo”…

Enquanto a minha esposa foi levantar o meu saco dos 77 km, eu e o Zé, com o nosso andar novo à “marioneta” lá fomos andando até ao pavilhão. Mal cheguei deitei-me e “ferrei logo o galho”. Mais tarde acordou-me a minha esposa toda chateada, que enquanto esteve na fila para levantar o saco, foram entregando sacos aos espanhóis pela numeração do dorsal mais baixo, sem respeitar qualquer fila.

Só de manhã é que soube os resultados de todos os portugueses, e para espanto meu… o Pedro Basso que tinha ficado aos 77 no médico, depois de ter levado umas injecções e um pouco “ganzado”, saiu de “fininho” sem ele ver e foi acabar a prova. “Ganda” Pedro… só mostra a nossa determinação aos Espanhóis… nem que seja á pazada!!

A todos os restantes Tugas , os meus parabéns por terem terminado esta prova tão difícil. Não é uma Ultra, mas sim uma Ultra de Montanha.

 

Finalmente posso dizer com orgulho: “"Soy un cientounero!"

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1ºs TRILHOS DO PASTOR - 29 Km
29 de Março de 2009

Como é habitual, vou-vos descrever a minha prova nestes Trilhos do Pastor.

Como amante da natureza, o Trail em montanha é um tipo de corrida que me atrai, ou não fosse eu da zona de Sintra e usasse os trilhos da Serra como local favorito para os meus treinos. Apesar do ritmo a que corro, tenho uma qualidade que me permite visualizar e apreciar o ambiente e odores que me rodeiam, quase numa memória fotográfica.

Altimetria do Percurso dos trilhos do Pastor

29 de Março de 2009 - Mais uma nova prova no calendário nacional de Trail, desta vez numa distância de 29 km, inferior à distância da mítica maratona. A prova situa-se na Serra D’Aire , nomeadamente em S. Mamede – Batalha.

Chegámos cedo, pois a prova tinha a partida marcada para as 9h00 em frente à Junta de Freguesia. Aí se situava o Secretariado da Prova, onde procedemos ao levantamento dos dorsais. Em simultâneo com a prova iria decorrer uma caminhada pedestre com cerca de 7 km. Estava frio, cerca de 7º C, mas sem o vento que se tinha verificado no dia anterior.

O pelotão foi-se avolumando, e rapidamente atingiu o limite das inscrições que tinham esgotado (cerca de 240 atletas e 115 caminhantes). Do mesmo modo que as corridas de estrada, também nas de montanha se nota uma larga maioria de veteranos.

Fez-se um minuto de silêncio em homenagem a um grande atleta de Trail, Joaquim Marquês, que faleceu recentemente devido a acidente de viação, tendo sido enaltecido o seu grande companheirismo e sua sempre boa disposição entre os atletas do pelotão.

Ao som dum “Vamos a isto, rapazes!” (fazendo lembrar o título dum célebre western), lá foi dada a partida arrancando os demais atletas num ritmo tão elevado, que mais parecia uma daquelas provas curtas do Troféu das Localidades. Ainda olhei para trás para verificar se aquela fuga tão descambada não se devia a algum animal em fúria que viesse atrás de nós.

Com o frio que se verificava, até foi agradável o inicio da corrida. Ao fim dum par de km entrámos nas Grutas da Moeda. A primeira sensação não foi de claustrofobia, mas sim dum calor agradável e acolhedor. A descida com cerca de 45 metros de degraus foi feita num ritmo rápido não dando tempo suficiente para apreciar a beleza natural das grutas iluminadas em tons laranja e amarelo. O alto atleta que me precede queixa-se que bateu com a cabeça numa das saliências do tecto o que me faz soltar um grito de “Ainda bem que só tenho 1,75 mts”. Junto da gargalhada geral alguém grita que escorregou no pavimento molhado. A saída das grutas acolhe-nos com uma diferença de temperaturas que nos faz arrepiar nem dando tempo para agradecer esta rápida visita de médico.

Entrámos novamente nos trilhos entre as árvores num piso de relva e folhas de eucalipto com o seu odor característico. Aqui o pelotão começa a alongar-se e começamos a perder de vista o atleta da frente. Subitamente quando se inicia um estradão, verifico que as fitas vermelho e branca que nos balizam o caminho se encontram à esquerda num ângulo quase despercebido. Depressa me apercebo dum grupo que retorna ao trilho e que se tinha perdido. Atletas conhecidos e normalmente mais rápidos do que eu, começam por me ultrapassar e a cumprimentarem-me novamente num “Olá, acho que já te tinha passado ali atrás!”. Depreendi que o GPS deles lhes tinha pregado uma grande partida.

Começamos a subir um trilho que serpenteia entre pedras e vegetação em direcção aos moinhos e que apenas permite uma progressão individual. No caminho, cruzamo-nos com alguns caminhantes que rapidamente se desviam e nos desejam uma boa prova. Quase no topo, o trilho obriga-nos a subir um muro de pedra com alguma dificuldade. A lenta progressão do atleta da frente que não permite que ninguém o ultrapasse, obriga-me a fazer corta-mato saltitando entre grandes pedras e a aterrar numa vegetação algo espinhosa que me recorda que fazia falta umas boas perneiras ou umas meias altas. Um odor agradável a rosmaninho e alecrim envolve-nos até ao topo da subida.

Após os moinhos, recomeçamos a descer num trilho largo que permite um aumento de ritmo, em direcção à aldeia Pia do Urso, no qual ultrapasso vários atletas pois sou muito bom a descer em velocidade. Atravessada a estrada, entramos pela via principal da Aldeia num piso que apesar de empedrado é muito regular com uma faixa central de pedras de cor diferente. Nesta ligeira subida apercebemo-nos da beleza e do contraste do uso da pedra e da madeira nas diversas habitações que nos ladeiam. Num passeio agradável num caminho de degraus feito de troncos, depressa nos apercebemos dos artefactos que nos rodeiam como um sistema solar e um urso talhado em madeira.

Saímos da aldeia e retomamos os trilhos entre as árvores. Aqui alcanço um atleta com quem meto conversa e que me diz que está a dosear o esforço na prova e que a usa como treino de preparação para Ronda. Informo-o de que também vou a Ronda e concluímos que até vamos no mesmo autocarro. Como o trilho me permite um ritmo mais rápido que o dele, despeço-me num “Até já!” consciente de que ele me alcançaria mais tarde numa das subidas pois já tinha constatado antes que ele era bom trepador.

Voltamos aos trilhos estreitos que vamos serpenteando até quase nos isolarmos tanto do atleta da frente como do de trás, e tendo muita atenção às fitas que marcam o percurso. Numa alternância de piso, num trote certo entre pedras, arbustos e árvores, vamos serpenteando num corta-mato muito bonito. O topo mostra-nos uma descida muito técnica, em cima de pedras afiadas que nos congratula duma boa escolha de sapatos de trail como o meus Solomon. Um percurso difícil que obriga a que nos concentremos tanto no que pisamos como para a frente numa antevisão do que nos espera.

Após esta descida, subimos um estradão que nos apresenta um vista magnífica sobre o vale de Reguengo do Fetal, mas rapidamente começamos a descer num “single-track” muito sinuoso e difícil e que obriga a uma descida lenta e um ajuntamento de atletas. Alguns simpaticamente deixam-me passar dizendo que receiam grandes descidas, nomeadamente um atleta do Igreja Nova com quem tive o prazer de fazer um treino nocturno em S. João das Lampas no início do ano, e um outro atleta que coxeava com sinais nítidos de ter tido caído num dos trilhos.

A chegada ao estradão mostra-nos que as fitas nos indicam o caminho à esquerda, mas vejo alguns atletas na subida à direita e grito-lhes que vão enganados. Recebo como resposta um grito vindo de cima, onde se localiza a Pia da Ovelha, dum atleta que nos diz que temos de descer á Vila. Recomeço a descida, desta vez acompanhado do atleta que vai a Ronda. Continuamos a descer e a conversar num piso empedrado que me desagrada quando subitamente tento agarrar o meu colega que acaba de escorregar e cair. Ajudo-o a levantar-se mas felizmente a queda não deixou qualquer sinal visível de lesão. Aproximamo-nos do abastecimento e assinamos o livro de ponto. Vejo que vou em 25º lugar, assino o meu nome e ataco os abastecimentos sólidos, como marmelada, banana e laranja, e recomeço a subida conjuntamente com o atleta que me pergunta: “Então afinal, o meu amigo é que é o famoso Carlos Fonseca?” Olho para o dorsal dele e retribuo: “Então o meu amigo é que é o Guilherme Hora? E que era suposto ter feito uns 20 km antes da prova com o Eduardo?” E a conversar concluímos em termos um amigo comum, o Joaquim Antunes, e que se tinha atrasado na vinda para a Batalha, pelo que não deu para fazer o treino inicial.

E é a conversar que vamos subindo num trilho pedestre, quase na vertical, agarrando-nos às raízes ou ramos em direcção ao Buraco Roto. De início, entrámos numa gruta natural mas rapidamente verifiquei que não era a entrada correcta, um pouco mais acima lá entrámos no túnel de que tanto falavam. Daí lá regressámos ao sítio que o tal atleta me tinha avisado para irmos à Vila, e aproveitei para dar um grito ao Zé Magro e ao Jorge Pereira que estavam a vinham na tal descida bem acentuada, de que tinham de ir à Vila.

Á nossa frente apresentava-se uma subida num estradão que mal dava para correr. Em sentido contrário regressavam imensos atletas que se tinham enganado. Sou novamente alcançado por atletas que de princípio deveriam vir à minha frente, tal como o Germano Silva e o Jorge Serrazina, e que se tinham perdido mais uma vez. No topo, iniciámos uma descida muito estreita e das mais emblemáticas da corrida, com degraus em madeira ladeados por grossas cordas.

Após uma pedreira, apresentava-se uma nova subida em estradão em direcção às Eólicas. À esquerda do estradão, aparece-nos outra subida, esta de pedra solta, para a qual já não consigo correr mas apenas caminhar. Com as mãos nos joelhos lá vou eu progredindo até ao topo com grande dificuldade. O Guilherme, esse… deixei de o ver! Chegado ao topo, e com uma lufada de ar fresco bebi uma das garrafas de isotónico do meu cinto. Aqui apertava o calor e já começava a necessitar de líquidos com maior frequência. A paisagem depressa se transforma num trilho sinuoso entre árvores. Vou bebendo uma segunda garrafa enquanto serpenteio entre elas até à chegada ao último abastecimento. Desta vez, enquanto encho uma das duas garrafas vazias uma rapariga do abastecimento rapidamente me enche a segunda. Lavo a cara com a água dum copo, e retomo uma descida rapidamente saltitando entre as pedras. À minha frente, um veterano do C.A.Barreira tropeça numa das pedras e cai embrulhando-se no trilho. Ajudo-o a levantar-se e noto que está a sangrar da mão esquerda e queixa-se do ombro esquerdo (Uma má memória para mim que me encontro a recuperar também duma lesão no ombro). Pergunto-lhe se quer lavar a mão com a água duma das garrafas mas ele pede-me para seguir agradecendo e a dizer que não tem nada, o que duvido.

Mais abaixo e nitidamente a corta-mato, aparecem-me diversos atletas de rompão e com cara de poucos amigos, que se perderam uma vez mais e entre eles os meus habituais conhecidos surpresos por me ultrapassarem tantas vezes. 

Calculei que faltassem perto duns 4 a 5 km, para o fim da prova, e tento alcançar o Jorge Serrazina que se vai embrenhando no trilho sinuoso. Trilho este por cima de mato cortado, entre árvores nuas e secas que mal dá para ver se estamos no caminho certo, e com muitos ramos cortados no seu trajecto. Finalmente os trilhos terminam numa curva inesperada em que aparece a estrada de alcatrão e que me dão indicação de que a meta é a pouco mais de 500 mts. Despejo o resto da garrafa pela cara abaixo, e desato num sprint rápido que me permite ainda ultrapassar um último atleta quando desemboco na praça da meta onde sou aplaudido e incentivado pela claque das meninas do Mundo da Corrida e ouço o meu nome pela voz do Moutinho quando cruzo a linha final. O meu cronómetro marcava 2h38’52”.

Excelente prova! É com surpresa que verifico a chegada de atletas supostamente mais rápidos do que eu. Abasteço-me no final e rapidamente me dirijo á zona do banho para um duche retemperador.

No final, um almoço composto de uma feijoada de chispe e enchidos, acompanhado dum bom tinto e seguido de fruta. O café, esse ficou para ser tomado num dos cafés da zona, que teimavam em por “um cheirinho” em todos os que serviam.

Como demoravam a sair as classificações, fomos numa caminhada para descomprimir os músculos, até às Grutas da Moeda. Quando regressámos ao Secretariado para saber das classificações, é que fui abordado pelo meu amigo Artur das Lebres do Sado, com grande surpresa minha, de que eu tinha ganho o 3º lugar no escalão, e que ele tinha subido ao pódio em meu lugar para receber o Vaso como troféu.

Em resumo: fiquei contente com a minha prestação, principalmente numa altura em que tenho tido uma carga intensiva de treino como preparação para o meu maior objectivo na minha carreira de atleta, que é a de completar uma Ultra-Maratona na distância de 101 km (ui… este último km vai ser muito sofrido!)
 

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A minha TRANSESTRELA
3 de Agosto de 2008

Chegámos ao Parque de Campismo da Relva da Reboleira – SkiParque (Sameiro), no princípio da tarde de sábado. 

Logo à entrada, e bem sinalizado, estava o secretariado da Organização onde levantei o dorsal, recebi o saco com T-shirt, boné, uma garrafa de vinho branco da região, e informações sobre a prova. Logo aí, fiquei a saber que tanto o percurso como os abastecimentos tinham sido alterados. Também recebi senhas para o jantar de sábado e almoço de domingo.

Encontrei-me com o Luis Silveira, antigo colega de equipa e que actualmente representa o Real Academia, e lá estivemos a debater um pouco a prova. Quanto á estadia, optei por acampar no parque de campismo, e que até foi gratuito.

O parque é espectacular. Tranquilo, situado no vale a poucos km do Sameiro, atravessado por um rio de águas límpidas e frescas (geladas, até!!) e ladeado por umas vertentes de pedra e relva. O ideal para um bom descanso. As instalações sanitárias são excelentes e limpas. Inclusive as instalações têm como materiais as placas de xisto sobrepostas como se vê nos muros típico da região e que se enquadram bastante bem na natureza.

O rio é tão pretendido, que existe logo antes da entrada do parque, um género de praia fluvial com um bar e zonas de lazer. A água estava tão apetecível que tive pena de não ter levado fato de banho!

Montámos a “barraca”, que é como quem diz… montou-se a tenda para a noite!

Como bom campista que sou e escuteiro que fui, já estou habituado a estas lides, mas hoje em dia até é fácil. Comprei um iglo da Queshua desses baratinhos á venda na Decathlon (os denominados 2 segundos) que mal a gente desaperta a fita, aquilo mexe-se e remexe-se a fica a tenda armada em poucos segundos. É só espetar as estacas e esticar as espias… e voilá!

De seguida resolvemos ir até ao Sameiro e jantar no Restaurante do Centro Cívico de Manteigas, indicado pela organização.

Como no restaurante apenas esperavam atletas, foi com surpresa que receberam os acompanhantes e lá tiveram de fazer mais comida. Negociado o valor do(a) acompanhante, em que tivemos de pagar a refeição com antecedência, o que não é lá muito agradável, lá nos foi servida a refeição que por sinal estava óptima. Sopa de legumes, massa à bolognesa, vinho água e sumos. Cafés à parte (pagos antecipadamente como já esperávamos!!), e foi a primeira vez que saí dum restaurante mal terminada a refeição e sem prestar contas a ninguém no final!

Voltámos ao parque e fomo-nos logo deitar de seguida, colocando o despertador do relógio e do telemóvel para despertar às 4h45, pois a partida seria às 5h30 da manhã.

A partida foi dada às 5 horas da manhã para os Caminheiros e às 5h30m para os Atletas.

Segundo o novo percurso, iríamos correr no traçado no Corredor de Mouro e serras do Boi e do Gato, localizadas entre os rios Zêzere e Mondego.

Na fase inicial em empedrado e asfalto, passando à estrada florestal com cerca de 1,5 km de prova. Subida constante e com fortes pendentes, por vezes a ultrapassar 20 % de inclinação, desde a partida (580 metros) até ao Posto de Vigia de incêndios da Azinha (6,4 km – 1218 metros).

Depois, terá início uma suave descida, no meio do bosque do Gorgulão, até alcançar o Alto de Sameiro (9,1 – 1081 metros) e ter início nova e forte subida para a cumeada do Corredor de Mouros, a qual irá percorrer, em suaves descidas e subidas até ao Posto de Vigia de incêndios de S.Lourenço e Cruz das Jogadas (17,6 km – 1103 metros). Vira então à direita, seguindo por um estradão de terra, com bom piso e durante muitos quilómetros a acompanhar as curvas de nível, até ao Alto de Sameiro (23,5 km), onde continua pela esquerda seguindo em altitude o trajecto do rio Mondego, lá bem no fundo de apertados vales. 5 km após o Alto de Sameiro irá subir para a serra de Bois (29 km – 1211 metros) para seguir então pela sua cumeada no regresso para a meta, não sem antes passar pela e última vez pela Alto de Sameiro e fazer então em sentido contrário os quilómetros iniciais no seu acesso à meta.

 

 

 

DADOS DA COMPETIÇÃO:

  • Distância – 42 km

  • Desnível acumulado positivo – 1250 metros

  • Altitude máxima – 1287 metros (10,7 km)

  • Altitude mínima – 560 metros

  • Postos de abastecimento – 8 (água, Isostar e barras de cereais)

  • 1° posto – 4,1 km ; 2° posto – 9,1 km ; 3° posto – 13,6 km

  • 4° posto – 17,1 km ; 5° posto – 23,3 km ; 6° posto – 29,0 km

  • 7° posto – 34,3 km e o 8° posto – 38,9 km

 

Lido tudo assim de seguida, até parece fácil, não é? Bem, vamos lá contar a minha prova.

A fase inicial até à estrada florestal foi feita num ritmo lento, até porque vínhamos com as luzes dos frontais e com muita atenção aos declives do terreno. A partir daqui iniciávamos uma subida de cerca de 5 km e 700 mts de desnível até ao Posto de Vigia. Até ao primeiro abastecimento seguimos correndo praticamente em fila, seguindo o atleta da frente e com os olhos no piso de pedras soltas iluminado pela luz do frontal. Neste ponto já nos cruzávamos com os caminhantes que tinham saído 30 minutos antes. Larguei o frontal neste ponto de abastecimento, pois a luz natural existente já nos permitia progredir embora com muita cautela.

A partir daqui, é uma inclinação tão acentuada que já caminhava em vez de correr. Nesta altura o grupo da liderança em que seguia desapareceu, e começo a ser ultrapassado pelo grupo seguidor que conseguia ainda correr, mais não fosse, nas pontas dos pés. Sou ultrapassado pelo Luis Silveira, pela Glória Serrazina, pelo Paulo Pereira (colega de equipa) e muitos mais. É uma subida terrível, não só pela sua inclinação como pelo piso de terra e pedra solta que teima em nos fazer regredir. Consigo progredir a muito custo. Finalmente começo a ver o topo bem como os atletas que me passaram, todos também já a caminhar.

Chegado ao topo e o cansaço desaparece com a magnífica vista do nascer do sol, tal qual uma bola de fogo que reaparece no cimo da serra.

Passo o posto de vigia e inicio uma suave descida num piso agradável de caruma através do bosque do Gorgulão. Nesta altura começo a reconquistar as posições perdidas na subida só não conseguindo passar a Glória, que parece mais uma cabritinha a descer por aquelas encostas. Chegamos ao Alto do Sameiro, local do 2º abastecimento, e pela primeira vez bebo Isostar e sigo. Á minha frente por um aceiro, vejo uma forte subida até à cumeada do Corredor de Mouros. Bem… tudo o que sobe… há-de descer!

Esta subida até à cumeada, apesar de curta (cerca de 1 km e tal) é bastante pronunciada mas num piso de vegetação rasteira rasgada pelos sulcos causados pela água, mas que permitem uma boa aderência dos meus sapatos de trail. Chegado ao topo, temos uma vista formidável por todo o vale numa magnífica e deslumbrante paisagem. Com ligeiros sobe-e-desce sempre no topo da serra com uma brisa fresca que nos fortalece os pulmões. É nesta altura que apanho a Glória Serrazina e começo com ela a descer pela serra numa zona de densa vegetação. A certa altura, olho para trás e já não vejo ninguém a seguir-me. Esta zona para mim, é a melhor parte do percurso. Corremos dentro de bosques, acompanhados pelo cantar dos pássaros, pelos coelhos que fogem assustados á minha passagem, dentro de túneis de vegetação até atingirmos o ponto de abastecimento (todos com água, Isostar e barras de cereais). Começo de novo a subir até ao posto de vigia de S. Lourenço, e tenho de rodear um rebanho (não vi nenhum pastor) bem guardado pelos cães da serra da Estrela e com ar de poucos amigos.

Entramos então num estradão de terra em que iremos percorrer cerca de 16 km. O piso é bom, quase plano, em que circunda as várias serras e que de vez em quando vislumbro um minúsculo atleta lá ao fundo, a correr na serra em frente. É a parte mais monótona do percurso e sem qualquer sombra durante o trajecto, principalmente sem qualquer companhia como foi o meu caso. De vez em quando olho para trás e continuo a não ver ninguém no meu encalce.

Finalmente antes do 5º abastecimento apanho o atleta (o tal minúsculo) e tento com ele mantermos um ritmo de corrida conjunta, mas pouco a pouco vou-me distanciando dele. Chego então ao abastecimento no Alto do Sameiro, e verifico que afinal é o mesmo do 2º pois o Jipe/ambulância dos B.V. de Manteigas é o mesmo. Desta vez encho de água duas das garrafas do meu cinto, agarro numa garrafa de água e apanho de novo o estradão á esquerda. Olho para trás e continuo a não ver ninguém. Nesta fase solitária do percurso, pergunto-me o que sucederia a alguém que se perdesse ou se lesionasse pois não se vê vivalma. Passados quase 26 km de prova, o estradão já me parece mais acolhedor, pois tendo o vale e o rio à nossa esquerda, já temos vegetação à direita que nos acolhe com uma sombra agradável. Chegado ao 6º ponto de abastecimento, só com uma única pessoa e nitidamente aborrecido por estar tão só e desesperado por falar com alguém, começa por falar rapidamente em frases curtas como “Este ano a prova é muito mais difícil!”, “Os atletas vêm mais espaçados uns dos outros!” “A partir daqui o percurso é sempre a subir até á serra dos Bois.” etc.

Com estas frases tão animadoras, bebo um copo de Isostar, agarro numa garrafa de água e numa barra de cereais, olho para a subida que se avizinha e penso cá para mim: “Deve ser este o nível mais alto da prova!” e lá vou eu…

Mas o meu entusiasmo dura pouco… ao fim duns 300 a 400 mts já vou a caminhar até ao topo que a vista alcança. Aqui o piso endireita um pouco e recomeço a correr. Já se vê garrafas de água vazias por entre os trilhos largadas pelos poluidores da natureza. Entro num planalto e procuro ver onde estão as fitas sinalizadoras mas como o meu instinto me diz que tenho de seguir à direita, facilmente verifico que lá estão as ditas fitas. Segundo soube depois na meta, os dois atletas que vinham na liderança perderam-se aqui. Foram enganados por alguém que cortou a fita com uma camioneta, e seguiram pelo trilho errado. Pior ainda, foi que na sequência do trilho encontraram fitas antigas (doutros anos) e pensaram que estavam no trilho certo. Só mais tarde se aperceberam e quando retomaram o percurso, já tinham perdido os lugares cimeiros bem como os cerca de 6 minutos que traziam de vantagem.

Depois do planalto, começo a descer por um trilho entre os pinheiros e lá longe, denoto outro atleta que apesar de ser a descer apenas vai a caminhar. Rapidamente o apanho e encorajo-o a continuar pois agora era a descer. Palavras dum leigo sobre o percurso.

À minha frente aparece a verdadeira subida para a tal Serra dos Bois. Uma subida curta, muito sinuosa mas acentuada. O piso de pedra solta não permite corrida mesmo que muito lenta, pelo que o ideal é caminhar. Sempre ouvi dizer que um caminheiro rápido ultrapassa o corredor mais fatigado! Até as mãos nos quadris ajudam nesta subida!

Mas perguntam vocês! Bolas, é sempre a subir? Não… Não! Claro que não!

Também há descidas! E esta até ao 7º ponto de abastecimento era de morte!

Quando iniciamos a descida até vemos cá ao fundo o Jipe/Ambulância dos B.Voluntários. Estrategicamente até bem colocado, está-se mesmo a ver!

A descida, essa, é feita de lado! Os sapatos deviam de ter bicos de aço para aderir ao piso que isento de qualquer sulco, rasgo, erva, pedra ou outro elemento aderente onde possamos colocar os pés, nos impele para baixo numa velocidade vertiginosa. Restam-nos alguns ramos ou giestas a que nos agarramos desesperadamente e que vão reduzindo a velocidade causada pela inércia.

Deixei-me ir pela encosta lisa até lá baixo suportando nos joelhos todo o peso do impacto das passadas até chegar finalmente à mesa do abastecimento. Ufa…

Este ponto era o mesmo do 2º e do 5º.

Largo a garrafa vazia que trazia comigo, e desta vez perco um pouco mais de tempo para me restabelecer. Retiro o powergel do bolso dos calções e bebo água para acompanhar. Não me dou lá muito bem com as barras de cereais, mas dava bastante jeito um cubo de marmelada.

Faltam cerca de 8 km para o final da prova. Agora era só fazer o caminho de regresso já conhecido. Começo por subir os tais 2 km pelo bosque do Gorgulão até à torre de vigia. Estes km que tão bem me souberam no início, agora parecem-me uma tortura. Ora correndo, ora caminhando lá vou eu subindo. Começam-me a doer os gémeos e os joelhos, devido à descida que tinha feito. Já não posso apoiar as mãos nos quadricípedes pois esses também doem.

Fico contente quando atinjo a zona dos pinheiros. Correr sobre a caruma alivia as cãibras que sinto. Finalmente chego ao Posto de Vigia onde alguém da organização me diz que só faltam pouco mais de 5 km e é tudo a descer.

Agradeço a informação e tento relembrar a subida que fiz de madrugada. Se era difícil a subir, de certeza também o vai ser a descer. Bem dito, bem feito!

Para mim, a pior parte da prova! Uma descida acentuada, de pedra solta e rolada. Com as pernas a ceder pela pouca força existente e o peso do corpo a obrigar a um ritmo nada pretendido. Não é fácil mesmo. Nesta altura o pensamento está mesmo em terminar a prova.

Pouco antes do ultimo abastecimento e que se encontra numa zona mais ou menos plana, ainda temos o discernimento de que tudo vai ser fácil. Despejo a garrafa que trago cabeça abaixo e deixo-a no abastecimento, agarrando outra de seguida quase sem parar, tal é a velocidade que a descida nos obriga. Parar agora seria uma tortura!

Mais à frente, apanho os últimos caminheiros que me incentivam e aplaudem. Os únicos aplausos que ouvi durante toda a prova! Chego ao fim do trilho florestal e desemboco na estrada asfaltada e pimba… parece que bloqueei!

O calor libertado pelo alcatrão quase que não me deixa respirar. Começo a caminhar lentamente e vou lavando a cara com a água da garrafa que rapidamente chega ao fim. Cruzo a estrada para o lado esquerdo para me abrigar do sol e verifico que falta pouco menos de um km para chegar. Retiro uma garrafa de Isostar do meu cinto e bebo-a avidamente. Recomeço num trote ligeiro e sinto as forças a voltar quando começo a ver as bandeiras da Solomon acenando para a minha chegada. É a tal sensação que faz com que todos os atletas se sintam realizados e com um sorriso nos lábios (mais não seja para a fotografia) atravesso a linha de chegada. O meu Polar marcava 4h19’31.

Um pouco menos do que tinha feito na Geira Romana, mas com menos km e muito mais fatigado a nível físico, o que mostra bem a dureza desta prova.

Á minha espera estava uma mesa repleta de vários tipos de fruta, água, Isostar, barras energéticas e de cereais. Pela organização, foi-me confirmado o meu tempo, o meu lugar na classificação geral e entregue o prémio de participação: um paralelepípedo de granito preso a uma tábua de madeira com uma chapinha dourada gravada com “TRANSESTRELA 2008”.

A simplicidade do troféu não é o mais importante, mas sim o que ele representa: o ter concluído uma das tradicionais provas de montanha existente em Portugal.

E eu consegui!

Ataquei literalmente a mesa de fruta, e que bem que me soube a melancia fresquinha, as uvas, as bananas, as laranjas, alperces, etc.

A mesa já estava rodeada por alguns atletas, entre eles o Luis Silveira que se queixava de cãibras desde o penúltimo abastecimento e que tinha perdido um bom lugar entre os seis primeiros e o Jorge Serrazina que tinha chegado pouco antes do que eu.

Discutimos as peripécias dos vários troços, as dificuldades comuns a todos nós e como conseguimos ultrapassá-las. Os atletas iam chegando a conta-gotas, até que chegou a primeira mulher – Glória Serrazina.

Largámos a zona da fruta para dar espaço aos atletas que iam chegando, e fomos até ao rio para um bom banho retemperador. Mas a água estava gelada, mas soube bem estar sentado á beira rio com as pernas dentro de água. Soube melhor que uma massagem.

Finalmente fui tomar um duche quente e relaxante aos balneários do parque e comecei a desmanchar a “barraca” para me preparar para o almoço que iria haver no pinhal junto á praia fluvial.

Se bem que uma tenda “2 segundos” seja muito prática…  demorei mais de 30 minutos às voltas com ela, para conseguir levá-la á posição de caber no saco donde tinha saído. Enfim… modernices!!

Quando já estava tudo empacotado, lá fomos até ao local do almoço, mas ainda não tinha começado. Falta ainda a chegada dum atleta – Zé Moutinho! Mas ainda estava dentro do tempo limite de prova.

Finalmente lá veio a notícia da chegada dele, e lá começámos o almoço.

Com uma entrada de presunto, chouriço e diversos queijos da serra, regados com um vinho tinto da região ou duma “bejeca”, seguido de um bom prato de chanfana com batata assada e legumes. Estava muito bom!

Seguiu-se a entrega de prémios aos três primeiros da geral masculina e feminina, tendo sido ganhos por:

  • Masc - 1º - Asdrúbal Freitas de Os Gaienses / Toyota ; 2º - Carlos Sá da ARC Águias de Alvelos ; 3º - Paulo Gonçalves do Clube Mont. Guarda

  • Fem. – 1º - Glória Serrazina da  CRP Ribafria; 2º - Mª Gabriel Ribeiro – Individual; 3º Raquel Guimarães dos Terrores do Asfalto

Segundo se constou, devido à mudança de percursos, este ano a prova foi bem mais difícil que a do ano anterior tendo demorado cerca de mais 30’ nos lugares cimeiros.

Feito o balanço final, realço os seguintes pontos:

  • A prova estava bem balizada e sinalizada em todo o percurso, apesar da situação surgida nos lugares da frente. No entanto, não isenta da responsabilidade da organização a existência de fitas velhas de provas anteriores.

  • Bom local de pernoita, com balneários e duche para os atletas.

  • Boas refeições tanto ao jantar como no almoço.

  • Pontos de abastecimento suficientes e bem abastecidos em quantidade.

  • Notei também que alguém tomava nota do nº do dorsal, o que consequentemente controlava o número de atletas em prova.

  • Eficácia e rapidez dos Bombeiros em retirar da prova, e tratar um atleta que caiu.

  • Uma prova dura, como são normalmente este tipo de provas de montanha, mas que poderiam arranjar um percurso alternativo de chegada de modo a evitar a descida abrupta que foi do desagrado de todos com quem falei.

  • Bastantes bebidas e fruta à discrição no final da prova, embora devesse existir um local à sombra para o efeito. Devido ao calor, os atletas refugiavam-se ora debaixo do chapéu-de-sol que tapava a fruta, ora à sombra do pórtico insuflável da chegada.

Uma prova a ser realizada desde que bem treinado para ela.

TransEstrela 2008

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ULTRA-TRAL GEIRA VIA NOVA ROMANA - 45 KM

 1 de Junho de 2008

Sábado às 7h00 da manhã lá estávamos nós no Campo Grande para mais uma jornada organizada pela Associação O Munda da Corrida para apanhar o transporte que nos levaria até Terras do Bouro. Reviam-se amigos e conheciam-se novos companheiros de viagem. Claro está, que rapidamente se fizeram novas amizades e discutiam-se temas e larachas, e partilhava-se sentimentos e acontecimentos de provas recentes.

A viagem decorreu sem problemas e almoçámos em Braga. Pouco tempo depois chegávamos ao Secretariado da prova em campo de Gerês para o levantamento dos dorsais e respectivos chips denominados SI-Card ou SportId, bastante usuais nas provas de orientação. De seguida fomos para Terras de Bouro, onde iríamos pernoitar num complexo desportivo da Escola Secundária, que gentilmente nos foi cedido.

Após a preparação do local para a pernoita, visitámos o povoado e lá fomos jantar num dos poucos restaurantes do sítio, o qual decerto foi uma má escolha, pois a comida apesar de ser em quantidade satisfatória deixou muito a desejar em termos de qualidade. O grupo recolheu-se cedo regressando à escola, como se fôssemos trabalhadores-estudantes.

O céu estava estrelado o que avizinhava um bom prenúncio para a prova do dia seguinte.
Tirando alguns “roncos”, o piar dumas avezinhas, e o característico som de alguns telemóveis, a noite decorreu sem maiores problemas. Inclusive, o som de algumas gotas que respingavam no chão do ginásio e derivadas dalguma goteira mal tapada, não impediu o sono dos justos.

Eram 5h45 da manhã e chega César acompanhado dum Centurião Romano. Atrás deles seguiam umas quadrigas brancas de transporte (parecidas aos Mini-Bus das Terras do Bouro), e organizadas pelo dorsal dos atletas, para levar os atletas do Ultra-trail para o local da partida. Os caminheiros e os da corrida Trail de 17 kms iriam depois.

Procuro o transporte, digo quadriga, que contenha o meu número de dorsal e embarco. Segue-se uma viagem de cerca de uma hora, por curvas e mais curvas, dignas de enjoos para quem não está habituado a tanto “bamboleio”.

Chegados ao local de partida, procede-se aos habituais cumprimentos aos amigos destas andanças, à entrega da mochila para ser levada para o local de chegada, à rega das plantas com o “mudar das águas” e ao imprescindível aquecimento. Dá-se entrada e marcação dos chips de controlo.

César eleva-se no seu pedestal de muro de pedra típica da região, e inicia o seu discurso num tom balbuciante motivado não só pela nobreza de tal acto, mas também pela falta de alguns conhecimentos do seu latim recentemente aprendidos num curso intensivo. Depois de muitos “Ave, Caesar!” o tocador de búzios dá inicio à nobre partida dos atletas.

Os primeiros kms deram logo a entender um percurso muito bonito, fresco e repleto de vegetação, mas também dum piso misto de pedras, lama e muita água. Os atletas mais rápidos começavam a formar um pequeno grupo na dianteira seguidos por outros que tentavam recolocar-se na melhor posição para os trilhos mais apertados. Sou ultrapassado pelos atletas da Remolpinta bem ambientados a este tipo de piso e pelo Victor Mota, já conhecedor destes trilhos.

O primeiro abastecimento apareceu rapidamente, numa área bastante larga de modo a educar os concorrentes a beber e depositar os copos no local definido, e não para levar e atirar para o chão como o fizeram alguns.

Daqui para a frente, já não se corre em pelotão, pois os atletas alongam-se pelos trilhos. Começa-se a ter mais cuidado com o que se pisa e a ter em consideração a margem de segurança ao veículo… perdão, ao atleta da frente. Cada salto que dá, adivinha-se um obstáculo (ou linha de água!). E pimba… a margem de segurança diminui rapidamente e “pata na poça”. Começamos a ladear as poças de água, nalguns casos já se corre por cima dos muros de pedra ou por cima das urzes que ladeiam o caminho. Começo a imaginar a dificuldade dos atletas mais lentos que não terão escolha possível, depois de tão pisado pelos atletas precedentes.

A corrida já se torna solitária. Tanto o atleta da frente como o que vem atrás, desaparecem rapidamente entre a folhagem a cada curva que se faz. Aumento um pouco o ritmo e tento apanhar o atleta da frente, para ter um pouco de companhia. Chama-se Arnaldo, é do Porto, e comenta com frequência que está com uma fome danada, pois não tomou o pequeno-almoço porque estava tudo encerrado e que espera que haja sandes no próximo abastecimento conforme prometido.

Até ao terceiro abastecimento, o percurso é lindíssimo! È inebriante a sensação da natureza que nos rodeia, os odores que sentimos, a vivacidade das cores da vegetação. Ao mesmo tempo lamento que o ritmo da minha corrida, não me permita ver os detalhes de paisagens tão magníficas. A minha concentração agora é no chão que piso… nos obstáculos que passo, num saltitar constante de pedra em pedra, tal e qual um cabritinho montês. Talvez numa outra altura, como caminhante me permita apreciar estas paisagens.

Mas voltando á prova… chego ao abastecimento e o meu colega de estrada "abanca" para o pequeno-almoço, e parto sozinho. Nesta altura sou apanhado por um atleta da Porto Runners que me diz que temos cerca de 15 kms já feitos. Olho para o meu cronómetro e vejo 1h12. Vou a um ritmo de quase 4’50/km, o que acho rápido para uma prova com este nível de dificuldade! Espero não pagá-las depois.

Os trilhos agora aproximam-se de povoações, e inesperadamente deparo com uma cancela fechada no trilho. Ao lado direito, um letreiro dizia “por favor, feche a cancela”. Volto atrás para confirmar as fitas de sinalização, mas retorno novamente! Com certeza o atleta que me precedia, educadamente levou o conselho á letra! Abro-a e penso de seguida: “E se eu a fechasse também? Nãã…. sou puto rebelde! O último que feche a porta!”

Saio do trilho e atinjo o asfalto! Desço à esquerda e vejo escrito a laranja no alcatrão a palavra “Geira” seguida duma seta á direita. Reentro no trilho e deparo com uma subida de apreciável inclinação com uma fita sinalizadora à direita. Mais á frente aparece-me uma bifurcação, mas sem sinalização alguma. Depreendo que seja para a direita, mas desta feita estou perante uma subida que só é possível de a fazer se fôr de “gatas”. Perante esta hesitação sou alcançado por diversos atletas, entre eles o Ricardo Diez e um atleta de bastões que denominava bastante experiência neste tipo de situações. Subimos atabalhoadamente até ao “malvado” topo e deparamos com uma via de alcatrão sem qualquer sinalização. Descemos novamente e regressámos ao início para apanharmos a outra via. Nesta altura, surge a Ana Vieira que regressava dessa mesma via e nos dizia que não tinha visto alguma fita de sinalização nesse trilho.

Bem, talvez tivesse desaparecido a fita lá em cima na estrada de alcatrão!!! Subimos todos… ufa… uma vez mais, desta feita com um número considerável de atletas, e regressámos à estrada. Percorridos várias centenas de metros verificámos uma fita de sinalização que saía do trilho à esquerda. Voltávamos a estar no caminho certo, embora com um ligeiro desvio, por sinal bem difícil de trepar.

Mal sabíamos nós que tínhamos perdido um ponto de controlo! Agora já percebo a frustração do “mp = missing point” do espécie de orientista, hehehehe

De acordo com o trajecto e altimetria que tinha visto no Google, aproximava-se a subida de Covide até Campo de Gerês onde se situava o secretariado da prova. Esta parte do trajecto é feita num misto de trilho e estrada que se cruzam repetidamente. Nalguns casos até se torna absurdo sair da estrada, descer um empedrado de cerca de 50 mts para tornar a subir outros 50 de empedrado e regressar á estrada! Para os atletas um pouco mais distantes a visão desta situação deve ser hilariante!! Porque não seguir a direito? Mas trajecto é trajecto, e é para se cumprir!!

Saímos da estrada nacional para entrar nos trilhos da Geira. Aqui começo a compreender um pouco com aquele slogan dos gauleses: “Estes romanos são doidos!!” Então não é, que de repente numa curva o trilho acaba e recomeça uns bons metros acima! E que para perfazer esta “gaffe” temos de trepar agarrados às raízes!!! Das duas duma: Ou o trilho de baixo abateu!! Ou o de cima cresceu!! Bom… seja como for, ultrapassado mais este obstáculo, até se tornou agradável a corrida por entre prados e quintas, sempre observados ao longe por uns animaizinhos de origem bovina de longas hastes, até tornar a entrar na estrada nacional.

Aí, deixo o Ricardo um pouco mais para trás, e acompanho um atleta jovem com a camisola laranja da corrida do Tejo, com o qual meto conversa e que me ajuda a fazer esta subida até ao museu da Geira. Num destes trilhos durante a subida, deparamos com uns outros animaizinhos (estes de origem caprina) que nos observam com muita curiosidade e aos quais educadamente cumprimento (Já há pouco público a ver a prova, pelo que há que incentivar os poucos existentes) e que rapidamente retribuem em coro, com um sonoro “Méééééeee” que serviu para nos rirmos um pouco também em conjunto.

Soube mais tarde em conversa com amigos, e que estes ditos animaizinhos fizeram um protesto à prova (talvez por não terem sido cumprimentados pelos restantes atletas) e “barraram” ás centenas, por completo o trilho, obrigando os atletas a ter de recuar e rodear o trilho pela estrada, ajudados naturalmente por outro animal de origem canina e respectivo pastor!

Atingimos o topo até ao cruzeiro do Campo de Gerês e ladeados por fitas entramos no átrio do secretariado sendo aplaudidos e incentivados por todos os caminhantes que se preparavam para dar início á sua prova. É nesta altura que apanho dois colegas de equipa, Eduardo e Alcobia, e que retemperamos forças em conjunto no abastecimento do túnel.

Demoro um pouco mais de tempo no abastecimento para encher as garrafas do cinto, e lá parto sozinho, pois os meus colegas já desaparecerem novamente no trilho. Reencontro-os outra vez numa bifurcação de casas com quatro alternativas possíveis, e sem qualquer sinalização. O Zé Alcobia tenta seguir pela esquerda pois pareceu-lhe ver uma fita lá mais adiante, o Eduardo sobe a rua da frente, e eu opto pela da direita pois o nome da rua era sugestivo “Rua da Geira” (dahhh)… mais á frente no largo, vejo nova fita de sinalização e grito aos meus colegas a rua certa.

Desço e viro á esquerda e sou confrontado de frente com o pelotão de caminhantes, que gritam, incentivam, aplaudem, tiram-me fotografias, e eu todo vaidoso nas luzes da ribalta ao som de “força, campeão!” vou cumprimentando todos com um sorriso de orelha a orelha!!
Repleto de tantos elogios, troto airosamente até ao cimo da estrada que vai ter àquela maravilhosa paisagem de cortar a respiração que é a da Barragem do Vilarinho das Furnas.

Mas a barrar a passagem, apresentava-se firmemente mais uma espécie típica da região, esta de origem barrosã (brevemente a 25 €/kg num supermercado perto de si), que me manda um destes olhares. Após um ligeiro rodeio, noto que o pachorrento animal apenas estava admirado por ver o que outros animais com uns “camelbags” às costas e alguns com bastões nas mãos, estariam a fazer por ali e a correr que nem doidos!!


A paisagem da barragem é tão bonita que não resisti a tirar mais uma foto com o telemóvel.

No entanto, a atenção agora é mais redobrada, pois a descida até à barragem é complicada e pedregosa e o receio de cair é muito. Finalmente chego ao estradão e acompanho a margem do rio. Á minha frente seguem três atletas que se direccionam para o rio. Aumento o ritmo numa tentativa de os apanhar, e quando olho para cima vejo uma subida a pique, ladeada por um corrimão feito de troncos de madeira, e penso para comigo: “Loucura, ter de subir aquilo!”, e só depois reparo que existe um atleta quase no topo. “É pá, estou mais uma vez enganado!”

Volto atrás, e então reparo que tinha passado um ponto de controlo que apesar de estar agora bem à vista, estava dissimulado quando lá passei antes (ou então, nem prestei atenção quando pretendi seguir os atletas da frente !!).
Malvada subida… sem o corrimão, teria de subir de joelhos! Apesar dos incentivos dum pequeno público lá no topo, a tarefa não foi fácil. O sorriso que fiz, foi mesmo para a foto e para esconder um pouco do meu sofrimento.

Inicio de novo o estradão e chego ao abastecimento onde ataco os alimentos sólidos. Pergunto como é o percurso, e dizem-me que era um pouco a descer até à Mata da Albergaria, depois endireitava, mas que teria uns 2 a 3 kms bem a subir até à Portela, depois de atravessar o rio.

Aquela subida do corrimão deixou mazelas, pois começo a sentir cãibras quando aumento o ritmo. Reduzo e mantenho uma passada firme, mas curta. Começo a ser apanhado por atletas que pensei estarem bem à minha frente, entre os quais o Arnaldo e o Ricardo, que me passam de seguida. Tinham-se enganado antes da subida do corrimão.

Esta é uma fase um pouco solitária e dolorosa devido às cãibras. Sou apanhado por mais um atleta, o Zé Sousa dos Avisenses, e seguimos juntos até à travessia do rio.
A meio da travessia estava um atleta com dificuldades em saltar as pedras, o que originou uma pequena fila atrás e fez com que alguns atravessassem o rio com água pela cintura.

O percurso agora era sinuoso, lamacento e com muitas raízes. Fi-lo calmamente, pois pouco se podia correr. Começo a sentir menos cãibras e sabe-me bem fazer a subida.
Finalmente cheguei à fronteira da Portela do Homem e alegro-me com a existência de novo abastecimento.

Como uma banana, laranja, marmelada e bebo Isostar. Sinto-me com força! A partir daqui é sempre a descer!!

Despeço-me do grupo em que vinha, e começo a descer num bom ritmo, pois descidas é cá comigo!

Pois é… afinal não era só a descer… o percurso é mesmo técnico e em trilhos completamente alagados. Nalgumas áreas, a organização esmerou-se no corte das silvas mas o pé destas, apesar de curtos, eram uma armadilha. Os trilhos mais pareciam os de uma corrida de corta-mato cheio de obstáculos, desde muros, riachos, vedações de arame que foram cortadas para a nossa passagem, autênticos pântanos. Eu parecia um cavalo no salto dos obstáculos… galgava muros, trepava morros, evitava áreas relvadas em que via atletas completamente atolados na lama (alguns a tentar desenterrar o sapato que ficou atascado).

Chego à estrada, e orientado por uns bombeiros entro numa via totalmente empedrada, digna duma via tipicamente romana. Nesta altura vejo o meu colega de equipa, o Ricardo, e vou no seu encalço. Finalmente consigo apanhá-lo e a minha companhia anima-o a manter um ritmo mais rápido.

Largamos a via empedrada e entramos num jardim com estrada de saibro ladeada por vigas de madeira. Pelo rio Caldo que se apresentava à esquerda, calculámos que seria a via final e que teria pelo menos um km até à meta.

Mas a estrada parecia que nunca mais acabava, com curvas e pequenas pontes, até que inesperadamente vimos umas fitas que nos forçava a sair da estrada e virar á direita. Era a meta à vista!!

Incentivados pelos aplausos, trotámos naquele relvado de sorriso nos lábios, posando juntos para a foto que nos irá permitir recordar mais tarde todas estas emoções deste Ultra-Trail.

Picado o chip no controlo final, recebemos a folha síntese com os tempos de passagem e tempo final, e atacámos de imediato os abastecimentos sólidos e líquidos. A folha marcava um tempo final de 4h23’08” embora no meu cronómetro desse um pouco menos.

À nossa espera já estavam as nossas mochilas devidamente ordenadas por número de dorsal, o que facilitou bastante. Agora era despir-me, e tomar um banho retemperador. Comecei por lavar o corpo e os sapatos na água fria, e finalmente tive coragem de entrar nas “águas calientes” proveniente das furnas. A água escaldava… mas pouco a pouco era agradável o seu conforto.

Apanhámos o autocarro de volta a Campo de Gerês, o que nos pareceu uma eternidade. Não sem antes termos de fazer uma paragem, pois alguns dos atletas sentiam-se indispostos e com vómitos.

Finalmente chegados e recebidos como heróis, almoçámos num repasto digo de romanos, onde não faltou diversas carnes grelhadas, saladas e regadas com um bom vinho verde (eu preferi o tinto), fruta e o imprescindível café.

Depois, fui buscar a minha tabuinha e o diploma de participação.


Em resumo:

Estão de parabéns a Confraria Trotamontes, em especial ao Moutinho, e o Clube de Orientação do Minho, pela formidável organização deste evento que envolveu cerca de 500 atletas numa das paisagens mais bonitas que temos no país, que é a Serra do Gerês.
Os abastecimentos estiveram fantásticos bem como o almoço, bem assim como ao ambiente romano que envolveu a entrega dos prémios.

A agradecer também ao S. Pedro, que nos proporcionou um dia fantástico sem chuva, e principalmente sem calor.
Na minha opinião, a prova teria sido mais fácil se os trilhos não estivessem tão alagados e enlameados, mas correr no meio duma serra com a envolvente da natureza, tem destas coisas.
De alertar para a organização de que é uma prova de trail e não de orientação, pelo que os pontos de controlo devem estar bem assinalados e visíveis e não escondidos ou dissimulados.

Uma prova que tem tudo para vir a ser uma das melhores deste nível em Portugal, e que de certeza tem todos os ingredientes para os iniciantes como eu nesta modalidade.

Ultra-trail Geira Nova Via Romana 2008

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ULTRA-MARATONA ATLÂNTICA
RAID MELIDES - TRÓIA - 43 KM

 15 de Julho de 2007

Bem, meus amigos... lá terminei a Ultra Maratona Atlântica numa distância de 43.000 metros (muito embora gostava de medir os últimos 3.000, pois pareceram-me muito mais).

Se todos diziam que era dura, confirmo e repito: É muuiittoo... dura! Treinar ao longo da costa da Caparica, é uma auto-estrada comparado com o percurso da prova. Os primeiros 8 a 10 kms, são um martírio. Qualquer sítio onde se ponha os pés, afundamo-nos. Mesmo assim fiz 1h03 nas primeiras duas léguas. Nas seguintes já o cronómetro marcou 1h10. Aos 10 kms, resolvi descalçar os sapatos e as meias completamente molhadas, e calcei as botas de caça submarina. Em bom tempo o fiz, pois recuperei todos os lugares que perdi enquanto as calçava. Correr na rebentação torna-se mais fresco e o apoio ao chão muito mais firme (escusado será dizer, com a devida inclinação).

É uma parte do percurso em que não se vê vivalma, à excepção dos atletas que mal se vislumbram na neblina. Ao fim dum tempo verifico que perdi duas garrafinhas de isotónico do cinto, durante o caminho. E se não tenho cuidado, estava prestes a perder um sapato, que mal preso no Camelbag, parecia um pêndulo do relógio. Felizmente tinha atado os atacadores ao saco.

A chegada à Comporta foi um alívio. O tubo da fonte tinha secado nos últimos dois kms, e já vinha a dosear o isotónico das minhas duas últimas garrafinhas. Reabasteço o saco com as duas garrafas do abastecimento, o que faz com que perca muitos lugares durante o enchimento. Na altura segundo um contador (não, não foi o contador-mor!!) tinha chegado ao controle em 50º.

Há que mencionar, que gostei dos incentivos e aplausos de muitos veraneante (e algumas delas... meu Deus!!, e eu com aqueles calores...).Não gostei foi de ver durante os kms seguintes, a falta de ética de alguns dos concorrentes, pois apesar do apelo da organização, tanto escrito como falado no inicio da prova, verifiquei muitas garrafas vazias ao longo do percurso. E não foram poucas!!!!

Aos 37,5 é que foi o azar... (Ah, pois... falta de treinos, Carlinhos, falta de treinos) fui atacado por uma cãibra na perna esquerda (coitada, foi a que sofreu o peso todo... fazia jeito ter uns centímetros a menos na perna direita, eheh) tive de me deitar nas espreguiçadeiras com um dos veraneantes (masculino...) a dar-me uma massagem. Segundo me disse, era treinador de miúdos não sei aonde (?). Caro amigo... um muito obrigado. Tirei as botas e fui-me lavar ao mar para arrefecer as pernas, calcei de novo os sapatos com meias secas... e lá vou. Perdi muito tempo.

Pior ainda, foi ter lavado a cara com água do mar (estúpido...) e veio-me a arder a cara devido ao sal, até á meta. Fui rebocado pelo Luís Sousa da Açoreana até ao km 40, quando vejo o meu filho e o Helder Jorge que vieram dar uma ajuda. Incentivado com a companhia do meu filho, imprimi novo ritmo tendo ainda ultrapassado um último atleta até chegar ao final.

Terminei com 4h54, estourado mas feliz por ter terminado uma prova tão dura.

No final, deliciei-me com a fruta, ataquei-as a todas, desde o melão, à melancia, às uvas, e também à marmelada. Ainda assim, recebi uma massagem bastante prolongada por uma das socorristas da C.V.

Os meus parabéns à organização pois o prometido... foi cumprido.

Foi pena ter-me ido embora logo de seguida, pois o tempo começou a ficar desagradável, mas segundo parece, fiquei em 7º do escalão, e vão enviar-me o diploma para casa.

..../....

Embora estivesse habituado a correr em areia, tanto no Guincho como na Caparica ou ALLgarve, achei bastante dificuldade em correr os primeiros 8 a 10 kms desta prova.
E este ano o piso estava muito bom (!!!???) segundo os raiders do ano passado.

Tinha previsto fazer uma prova num ritmo de 6’/km, mas alguma inexperiência alterou-me os meus objectivos (embora tenha ficado satisfeito com o meu tempo final).
Também é verdade que o S. Pedro ajudou bastante com um tempo fresco e ventinho a ajudar, pois andei a passear o boné a maior parte do tempo.

No entanto, e como não existem erros (são oportunidades de melhoria), aqui menciono alguns a evitar de futuro:

- Se comparem um cinto de maratonista com as garrafinhas, deve-se ter o cuidado de que tenha bolsas para as ditas, e não um elástico. E se essas bolsas apertam ao cinto através de fita velcro, então o melhor é coser essa mesma fita. No meu caso, ficaram duas pelo caminho.

- Apertar bem o camelbag ao peito.
Depois do abastecimento na Comporta, resolvi aliviar a fivela do camelbag e o resultado foram duas pequenas marcas nos ombros (muito ligeiras, pois felizmente tinha aplicado um creme gordo no inicio)

- Levar apenas o indispensável no camelbag. Por muito leve que seja, vai pesar quilos ao fim dumas horas.
Eu resolvi levar as botas de caça submarina, e ao trocar com os sapatos acabei por “carregá-los” durante 30 kms.

- No abastecimento, para evitar de carregar as duas garrafas de meio litro, resolvi reabastecer o camelbag.
Para quem, o tempo e o ritmo são importantes, a pausa para reabastecer é uma grande quebra.
Também verifiquei que alguns dos atletas que me passaram nesse ponto, “livraram-se” aí da mochila, e seguiram só com as garrafas na mão.

- Não lavar a cara com água do mar.
Embora bastante refrescante de início, o sal até faz arder a vista.

- Por fim, é muito importante a escolha do calçado. Levar mudas, como eu fiz, perde-se muito tempo e é bastante penoso.
A opção das botas, até nem foi a pior. Não significa que seja a melhor opção, mas mantém os pés secos, a borracha aperta evitando a entrada de areia e ao mesmo tempo o pé não anda solto, não existindo assim o perigo de fricção ou de bolhas. O correr na rebentação trouxe-me mais firmeza na passada. Talvez das duas opções que mencionei antes neste tópico, eu devesse escolhido aquela mais do tipo “bota” em vez da “meia” o que trouxe desvantagens nos últimos 5 kms, pois o piso estava bastante bom e mudança para os sapatos trouxe-me uma melhor progressão.

Bem, hoje já me sinto melhor fisicamente, e apesar da crise imobiliária, já me livrei do “andar” novo que ganhei em Tróia no domingo, pelo que espero fazer um treino a ritmo muito… muito lento.

Raid Melides-Tróia 2007

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